16 de out de 2024 às 14:12
Não podemos “reinventar a fé católica” ou “ensinar um catolicismo diferente em países diferentes”, disse esta semana o arcebispo de Sydney, Austrália, dom Anthony Fisher, delegado no Sínodo da Sinodalidade.
Enquanto a assembleia sinodal debate a terceira parte do Instrumentum Laboris sobre “lugares”, bispos e leigos falam sobre questões como o futuro da sinodalidade e o papel e a autoridade das conferências episcopais nacionais, disse ontem (15) o arcebispo ao “EWTN News Nightly“, em entrevista que será transmitida na sexta-feira (18).
As conferências episcopais deveriam “ter autoridade para ensinar um catolicismo diferente em diferentes países ou decidir uma liturgia diferente em diferentes países ou uma missa diferente para diferentes países? Elas trazem sua própria cultura local para questões na área da moral, por exemplo?”, disse dom Fisher a Bénédicte Cedergren, produtora associada do “EWTN News Nightly”.
“Poderíamos, por exemplo, imaginar uma Igreja em que há ordenação de mulheres em alguns países, mas não em outros, ou você tem casamentos entre pessoas do mesmo sexo em alguns países, mas não em outros, ou você tem uma Cristologia Ariana em alguns países e uma Cristologia Nicena em outros?”, disse o arcebispo. “Você pode imaginar, eu acho que não”.
Dom Fisher lidera uma das maiores arquidioceses da Austrália em número de católicos. A arquidiocese de Sydney atende cerca de 590 mil católicos e tem uma população de quase 5,3 milhões de pessoas.
Como um dos 15 bispos no conselho ordinário do Sínodo dos Bispos para o Sínodo da Sinodalidade, o arcebispo participou da primeira sessão da assembleia sinodal em outubro do ano passado e está de volta a Roma este mês para a segunda sessão.
Depois de três anos de consultas em nível local e universal, no final deste mês a Igreja concluirá um processo de discernimento sobre como se tornar mais sinodal e mais missionária.
Dom Fisher disse ao “EWTN News Nightly” que está “muito preocupado” que os católicos “se apeguem ao depósito da fé, à tradição apostólica, que não imaginamos, na vaidade da nossa época, que vamos reinventar a fé católica ou a Igreja Católica”.
“Na verdade, esse é um tesouro tremendo que recebemos de geração depois de geração antes de nós, desde Nosso Senhor Jesus Cristo e seus apóstolos. E estamos aqui para transmitir isso fielmente para as próximas gerações depois de nós”, disse o arcebispo.
Dom Fisher reconhece que a compreensão do depósito da fé se desenvolveu ao longo do tempo e continuará a se desenvolver, e disse achar que é uma característica interessante da Igreja que “conseguimos ter uma grande variedade de culturas e diferentes maneiras de rezar e diferentes maneiras de evangelizar, e ainda assim nos mantemos unidos como um em Cristo”.
“Mas é a única fé, e é importante para mim, vindo das periferias da Igreja na Austrália, tão longe quanto é possível estar de Roma no mundo”, disse o arcebispo, que “é a única Igreja, é a única fé e queremos continuar a celebrar mesmo em meio à nossa diversidade cultural”.
Mudanças em debate
Dom Fisher disse que uma das questões importantes que o sínodo debate esta semana é qual é “o escopo e quais são os limites do local e do cultural” na Igreja universal.
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O Sínodo da Sinodalidade discute a terceira e última parte do Instrumentum Laboris (documento de trabalho) entre hoje (15) e sexta-feira (18). A última semana do encontro, que termina em 27 de outubro, será dedicada à elaboração e revisão do documento final.
No parágrafo 91 da terceira parte, o documento diz que há estruturas como conselhos paroquiais, decanatos e dioceses já regulamentadas no direito canônico que “poderão revelar-se ainda mais adequadas para dar forma concreta a alguns aspetos de um estilo sinodal”.
Esses conselhos “podem ser alvo de processos de discernimento eclesial e de processos decisórios sinodais (…)”, diz o documento . “Trata-se, pois, de um dos campos de ação mais promissores para uma aplicação expedita das orientações sinodais, que conduza a alterações rapidamente perceptíveis”.
Um pouco mais adiante, na mesma parte do documento de trabalho, também se diz: “As Conferências Episcopais constituem um instrumento fundamental para a criação de laços e partilha de experiências entre as Igrejas, além de promoverem o descentramento do governo e da planificação pastoral”.
“A partir do que emergiu no decurso do processo sinodal, propõe-se: a) reconhecer as Conferências Episcopais como sujeitos eclesiais dotados de autoridade doutrinal, assumindo a diversidade sociocultural no quadro de uma Igreja poliédrica e favorecendo a valorização das expressões litúrgicas, disciplinares, teológicas e espirituais apropriadas aos diferentes contextos socioculturais”, diz o parágrafo 97 do texto.
Interculturalidade na Igreja
No contexto dessas ideias, dom Fisher disse pensar que “precisamos ter a mesma fé, a mesma moral, a mesma ordem da Igreja e, essencialmente, a mesma liturgia”.
“Mas nós abrimos espaço para as diferentes tradições rituais na Igreja e para diferentes adaptações culturais e para diferentes maneiras de evangelizar em diferentes lugares”, disse o arcebispo.
Dom Fisher disse que na arquidiocese de Sydney, por exemplo, há muitas tradições rituais católicas diferentes, como os maronitas, melquitas, caldeus, ucranianos e siro-malabares.
“Sabemos que eles trazem espiritualidades diferentes… uma missa diferente e diferentes formas de oração, mas também, muitas vezes, uma compreensão diferente da sinodalidade, dos papéis dos bispos, da maneira como se escolhe os bispos, eles têm leis canônicas diferentes e uma ordem eclesiástica diferente, embora ainda sejam parte da única Igreja Católica”, disse o arcebispo.
“E é parte do entusiasmo da Igreja, acho, poder ir a uma missa maronita e é muito diferente, e ainda assim saber que é a mesma coisa: é o Senhor vindo a nós sob os elementos do pão e do vinho, mas Ele está realmente presente, Sua humanidade e divindade, para nós”.
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Bénédicte Cedergren, produtora associada do “EWTN News Nightly”, contribuiu para esta reportagem.
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