28 de set de 2024 às 13:12
O papa Francisco afirmou em seu discurso aos bispos e religiosos da Bélgica que Deus sempre perdoa e lembrou que, embora “todos nós cometamos erros”, ninguém está “perdido para sempre”.
Hoje (28) pela manhã, antes de deixar a Nunciatura, o papa Francisco cumprimentou rapidamente a vice-presidente da Comissão Europeia, Margarítis Schinás; a vice-presidente da Comissão Europeia para a Democracia e Demografia, Dubravka Šuica; a representante da Organização Mundial da Saúde na União Europeia, Oxana Domenti e o diretor regional da OMS para a Europa, Hans Kluge.
Papa Francisco almoça com os desabrigados
Depois, o papa almoçou com um grupo de dez desabrigados e migrantes, acolhidos pela paróquia de Saint Gilles. Este encontro foi organizado pelo frei Benjamin Kabongo.
O frade Benjamin Kabongo entregou ao papa uma cerveja produzida pela paróquia, cujos ganhos são destinados à promoção do seu trabalho em prol dos migrantes e dos desabrigados.
Francisco chegou à basílica do Sagrado Coração de Koekelberg, depois das 10h, e cumprimentou os fiéis que o acolheram no exterior da igreja, antes de iniciar o seu encontro com os bispos, sacerdotes, diáconos, consagrados e consagradas, seminaristas e agentes pastorais da Bélgica.
Na entrada principal da basílica, o arcebispo de Mechelen-Bruxelaso, dom Luc Terlinden, presidente da Conferência Episcopal Belga e o reitor da basílica esperavam o papa Francisco. Depois, o papa percorreu a nave e chegou ao altar enquanto o coral cantava um cântico.
Papa Francisco escuta vários testemunhos
Depois do discurso de boas-vindas do presidente da Conferência Episcopal Belga, o papa escutou os testemunhos de um padre, de um agente pastoral, de um teólogo, de um representante dos centros de acolhimento para vítimas de abusos, de uma freira e de um capelão de prisão, intercalados com a execução de alguns cânticos.
O primeiro testemunho foi dado pelo padre Helmut Schmitz, um sacerdote que perguntou ao papa Francisco como é que um pastor pode “guiar as pessoas no seu caminho”.
Depois, uma agente pastoral jovem, Yaninka de Weirdt, perguntou ao papa como “podemos unir os nossos sonhos, como nós, jovens, podemos contribuir para a unidade da diversidade”.
O teólogo Arnaud Join-Lambert questionou o papa sobre futuro da sinodalidade num Ocidente secularizado, e Mia de Schampelaere, que trabalha num centro para vítimas de abusos, pediu conselhos ao papa sobre como a Igreja pode aprender com as “feridas dos sobreviventes e criar uma cultura eclesial onde todos se possam sentir seguros”.
O papa Francisco também ouviu os testemunhos de uma freira e de um homem que trabalha numa prisão.
Ao dirigir-se aos bispos e religiosos do país, o papa Francisco definiu a Igreja na Bélgica como uma Igreja “em movimento”, que procura transformar a presença das paróquias e também promover a formação dos leigos.
Depois, centrou o seu discurso na reflexão sobre três aspectos: a evangelização, a alegria e a misericórdia, e respondeu a cada um dos que deram o seu testemunho.
A evangelização
Em primeiro lugar, destacou que “as mudanças da nossa época e a crise da fé que vivemos no Ocidente impeliram-nos a regressar ao essencial, isto é, ao Evangelho,”.
No entanto, destacou que cada crise “é um momento que nos é oferecido para nos sacudir, para nos questionar e para mudar”.
Assim, afirmou que, “quando experimentamos a desolação, devemos sempre perguntar-nos qual é a mensagem que o Senhor nos quer comunicar”.
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Explicou ainda que “passamos de um cristianismo instalado num quadro social acolhedor para um cristianismo “minoritário”, ou seja, um cristianismo de testemunho”.
E isto, continuou o papa, “requer a coragem de uma conversão eclesial, para iniciar aquelas transformações pastorais que afetam também os costumes, os estilos e as linguagens da fé, de modo a que estejam verdadeiramente ao serviço da evangelização”.
Por isso, reiterou que “e limitam a conservar ou a gerir um património do passado, mas pastores apaixonados por Cristo e atentos a acolher as questões do Evangelho, frequentemente implícitas, enquanto caminham com o povo santo de Deus”.
O papa também destacou que “pode haver muitos percursos pessoais ou comunitários, mas que nos levam à mesma meta, ao encontro com o Senhor”
“Na Igreja há lugar para todos e ninguém deve ser uma fotocópia do outro. A unidade na Igreja não é uniformidade, é antes encontrar a harmonia das diversidades!”.
A alegria
Em relação a alegria, explicou que “não se trata aqui das alegrias associadas a algo momentâneo”, mas uma alegria maior, “que acompanha e sustenta a vida, mesmo nos momentos sombrios ou dolorosos, e isto é um dom que vem do alto, de Deus”.
É a alegria do coração, segundo o papa, “suscitada pelo Evangelho; é saber que não estamos sós ao longo do caminho e que, mesmo em situações de pobreza, pecado, aflição, Deus está próximo, cuida de nós e não deixará que a morte tenha a última palavra”.
O papa sublinhou que “a alegria é o caminho” e que, “quando a fidelidade parece difícil, devemos mostrar” que esta virtude é um “caminho para a felicidade”.
A misericórdia
Em terceiro lugar, destacou que “Deus nunca desiste de nos amar”, nem mesmo quando fazemos algo “grave”.
No entanto, pontuo Francisco, “a justiça de Deus é superior: quem errou é chamado a reparar os danos, mas para curar o seu coração precisa do amor misericordioso de Deus. Não esqueça: Deus perdoa tudo, Deus perdoa sempre; é com a sua misericórdia que Deus nos justifica, ou seja, nos torna justos, porque nos dá um coração novo, uma vida nova”.
Depois, dirigiu-se a Mia, que ajuda as pessoas que sofreram abusos, e sublinhou que “os abusos geram sofrimentos e feridas atrozes, minando até mesmo o caminho da fé”.
“E é necessária tanta misericórdia, para não ficar com um coração de pedra diante do sofrimento das vítimas, para as fazer sentir a nossa proximidade e lhes oferecer toda a ajuda possível, para aprender com elas – como disseste – a ser uma Igreja que se torna serva de todos sem subjugar ninguém”, disse.
A este respeito, recordou que “uma das raízes da violência é o abuso de poder, quando usamos as nossas funções para esmagar ou manipular os outros”.
Afirmou ainda que “Jesus mostra-nos que Deus não se afasta das nossas feridas e impurezas. Ele sabe que todos nós podemos errar, mas ninguém é um fracassado. Ninguém está perdido para sempre”.
“Convém seguir todos os percursos da justiça terrena e os trâmites humanos, psicológicos e penais; mas a pena deve ser um remédio, deve levar à cura”, argumentou.
Por último, o papa pediu “uma Igreja que nunca feche as portas”, mas que, ofereça “a todos uma abertura para o infinito, que sabe olhar mais além”.
“Esta é a Igreja que evangeliza, que vive a alegria do Evangelho, que pratica a misericórdia”, concluiu.
No fim do encontro, Francisco foi ao túmulo do rei Balduíno, conhecido por sua devoção religiosa e cuja fé marcou profundamente seus 42 anos de reinado.
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