27 de set de 2024 às 15:42
Com o Sínodo da Sinodalidade “chegou a hora da possibilidade de começar a dar forma ao sonho conciliar do Vaticano II”, escreveu a teóloga espanhola Cristina Inogés, que participa no Sínodo da Sinodalidade no mês que vem no Vaticano nomeada pelo próprio papa Francisco.
“A geração que liderou aquele concílio está nos últimos dias. Se perdermos a memória deles, perderemos realmente a nossa memória e poderemos repetir os erros cometidos”, escreveu ela no texto Del Sínodo al jubileo: construyendo una comunidad en diálogo (Do Sínodo ao Jubileu: Construindo Comunidade no Diálogo).
Nas últimas das 30 páginas do texto, a teóloga formada pela Faculdade de Teologia Protestante de Madrid sustenta que o próximo jubileu convocado pelo papa Francisco é uma espécie de prolongamento do Sínodo da Sinodalidade “para que continuemos a desfrutar da reconstrução daquela Igreja que o Concílio Vaticano II tão bem desenhou, embora rapidamente tenha se tornada confusa e acabou irreconhecível e, em muitas ocasiões, contrária ao próprio Concílio”.
O concílio Vaticano II, convocado pelo papa são João XXIII em 1959, tinha como objetivo atualizar a forma como a Igreja deveria posicionar-se no mundo moderno. O concílio começou em 1962 e foi dividido em quatro etapas, terminando em 1965, no pontificado do papa são Paulo VI.
Para Inogés, o Sínodo da Sinodalidade, que fará a sua segunda assembleia no mês que vem, deve basear-se na ideia de que Jesus Cristo “não nos deixou uma estrutura eclesial desenhada, mas um modo de vida”.
“O Cristianismo nunca deveria ter-se tornado uma religião”, disse Inogés. Para ela, Jesus buscou transmitir um modo de vida e de relações humanas baseadas na fraternidade, não fundar uma religião institucionalizada com hierarquias e “separar uma parte mínima do outros, os sacerdotes – o clero –, embora com influência, muita influência, sobre os demais.”
“Jesus cumpriu a sua missão na vida cotidiana, na realidade de cada dia e longe do templo onde só se aproxima para protagonizar a única cólera monumental que tem em todo o Evangelho: um episódio ligado ao abuso de poder e que teve como consequência a expulsão dos comerciantes”, disse ela.
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Para Inogés, “todos os batizados, mas ainda mais os sacerdotes, são chamados a proclamar notícias libertadoras e não conjuntos de regras e proibições”. Na Igreja, “a figura e o ser do sacerdote tendem a ser muito espiritualizados e voltados para o culto, correndo o risco de acabarem sendo oficiais sacramentais”, diz.
Inogés coloca em segundo plano o significado sacrificial da Eucaristia. Para a autora, “na história da festa da Páscoa que Jesus celebrou com todos os que o acompanhavam – embora os evangelhos só falem dos Doze – e que convertemos na Última Ceia, vemos que o cerne da celebração não está centrado no corpo e no sangue. O mais importante é que quem vai renunciar à sua carne e ao seu sangue se rebaixe mais uma vez para mostrar que a sua lógica é a do serviço e não a do poder”.
Na sua dissertação, a teóloga diz também que “A Mesa é para todos. O único que poderia criar regras e leis para alguém se aproximar dela é Jesus, seu dono. E ele não fez isso. E isso não acontece. E ele não vai fazer isso.”
Em seu argumento, Inogés também diz que “Jesus não obriga como os dez mandamentos; Jesus apresenta um programa nas bem-aventuranças.”
O papa são João Paulo II baseou sua encíclica Veritatis splendor, sobre a moral da Igreja, no diálogo de Jesus com o jovem rico, narrado no capítulo 19 do Evangelho de S. Mateus.
«Aproximou-se d’Ele um jovem e disse-Lhe: “Mestre, que devo fazer de bom para alcançar a vida eterna?”. Jesus respondeu-lhe: “Por que me interrogas sobre o que é bom? Um só é bom. Mas se queres entrar na vida eterna, cumpre os mandamentos”. “Quais?” — perguntou-Lhe. Replicou Jesus: “Não matarás; não cometerás adultério; não roubarás; não levantarás falso testemunho; honra teu pai e tua mãe; e ainda, amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Disse-Lhe o jovem: “Tenho cumprido tudo isto; que me falta ainda?” Disse-lhe Jesus: “Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que possuíres, dá o dinheiro aos pobres, e terás um tesouro nos céus; depois, vem e segue-Me”» (cf Mt 19, 16-21), cita o papa que governou a Igreja de 1978 a 2005.
No final de seu artigo, a teóloga espanhola escreve: “Ajude-nos, Senhor, a aprender a ser uma igreja de pessoas num mundo de pessoas, com pessoas, para pessoas. Com todos, sem exceção. Gostaria que na nossa confissão de fé pudéssemos dizer: ‘Creio numa Igreja santa, católica e apostólica para todos, todos, todos. Amém’ “.
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