2 de set de 2024 às 12:10
O seminarista Ján Havlík, que morreu por torturas impostas pelo regime comunista da Tchecoslováquia em 1965, foi beatificado em cerimônia celebrada no sábado (31) pelo prefeito do Dicastério para as Causas dos Santos da Santa Sé, cardeal Marcello Semeraro.
A missa de beatificação de Havlík foi rezada no espaço em frente à basílica das Sete Dores da Virgem Maria em Sastin, Eslováquia. Com o fim dos regimes comunistas impostos na Europa oriental e central pela União Soviética, que desapareceu em 1991, Eslováquia e República Tcheca se tornaram dois países independentes.
Ján Havlík nasceu em 12 de fevereiro de 1928 e morreu em 27 de dezembro de 1965, três anos depois de ser libertado, depois de sofrer 14 anos de abusos físicos e psicológicos e tortura, interrogatórios, isolamento e trabalhos forçados. Ele tinha 37 anos quando morreu.
Depois do Ângelus de ontem (1) no Vaticano, o papa Francisco disse: “esse jovem foi morto em 1965, durante a perseguição do regime à Igreja na então Tchecoslováquia. Que a sua perseverança em testemunhar a fé em Cristo seja um encorajamento para aqueles que ainda hoje sofrem tais provações.”
O cardeal Semerario disse em sua homilia que “o amor de Cristo é a força que nos faz superar a fraqueza, a energia que nos faz vencer o medo, a luz que nos faz derrotar as trevas”.
“Foi a virtude da esperança que o fez crescer e sustentou a sua vocação”, disse Semeraro. “Um sinal de esperança, de fato, já havia sido a escolha de ser discípulo de São Vicente de Paulo”.
O cardeal disse que o novo beato “foi vítima de um regime que queria destruir o fenômeno religioso e em particular a Igreja Católica e os seus ministros”, e disse que na prisão Ján “copiava à noite, escrevendo a lápis e também fazendo cópias para outros, o Humanismo integral de Jacques Maritain”, de cerca de 350 páginas.
Diante da ideia dos comunistas de “manter prisioneira a palavra de Deus”, o seminarista se opôs “com a fidelidade a Deus, a fidelidade à própria vocação, a própria escolha de caridade para com os outros”.
“A Igreja reconhece-o e confirma-o com as palavras do Papa: ‘Ján Havlík foi fiel discípulo do Senhor Jesus, a quem ofereceu generosamente a sua vida, perdoando os seus perseguidores’ ”.
Biografia do novo beato Ján Havlík
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O beato nasceu em 12 de fevereiro de 1928 em Dubovce, no oeste da Eslováquia. Por volta dos 13 anos começou o processo de discernimento para ingressar na Congregação da Missão, de são Vicente de Paulo, diz a agência Fides, da Santa Sé.
Em 1943 iniciou seus estudos do seminário menor na Escola Apostólica Vicentina em Banská Bystrica. Em 1948 o regime comunista tomou o poder na Tchecoslováquia.
Em agosto de 1949, Havlik iniciou o noviciado. Em abril de 1950, a ŠtB, polícia política eslovaca, implementou a “Akce K”, operação para eliminar todas as ordens religiosas masculinas.
Havlik e os outros noviços foram presos, submetidos a um programa de “reeducação” durante duas semanas, e depois obrigados a fazer trabalhos forçados. Ján foi libertado três meses depois e continuou a sua formação teológica clandestinamente, enquanto trabalhava como operário em Nitra.
Em 29 de outubro de 1951 foi preso com os demais seminaristas vicentinos. Ele ficou preso por 15 meses, durante os quais foi submetido a interrogatórios e tortura. Em fevereiro de 1953, o beato foi condenado a 14 anos de trabalhos forçados por alta traição, pena posteriormente reduzida para dez anos.
Sobre seu trabalho na prisão, ele escreveu: “Sinto que estou em uma missão, nenhum missionário poderia desejar um lugar melhor e mais desafiador para trabalhar. Se ao menos houvesse mais tempo. Se ao menos o trabalho não nos pesasse tanto”.
Havlik trabalhou em vários campos de concentração e extraiu urânio nas minas de Jáchymov até o outono de 1958, quando foi acusado de pertencer a uma associação clandestina de prisioneiros. Foi internado em um hospital psiquiátrico e depois transferido para vários presídios até 29 de outubro de 1962, quando foi libertado.
Escreveu dois cadernos espirituais em seus últimos anos de sua vida: “A Via Sacra das Pequenas Almas” e o “Diário”.
Morreu em 27 de dezembro de 1965 aos 37 anos.
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