14 de ago de 2024 às 16:35
Uma equipe de cientistas identificou os restos mortais de Teodomiro, bispo de Iria Flavia, que recebeu uma revelação sobre a localização do túmulo de são Tiago Maior, apóstolo que evangelizou a Espanha e deu origem à maior rota de peregrinação da Europa.
Artigo publicado pela Universidade de Cambridge, Reino Unido, dá detalhes da pesquisa liderada pelo espanhol Patxi Pérez Ramallo, da Universidade de Ciência e Tecnologia da Noruega.
A origem do Caminho de Santiago remonta ao século IX, quando um eremita chamado Pelayo testemunhou uma chuva de meteoros caindo sobre um campo. Ao chegar ao local, descobriu um túmulo antigo e informou o bispo de Iria Flavia, Teodomiro.
Segundo a tradição, depois de três dias de oração e jejum, o bispo recebeu a revelação de que o campo era o lugar onde o apóstolo são Tiago foi sepultado com dois de seus discípulos.
O rei Afonso II das Astúrias, ao saber dos fatos, foi o primeiro peregrino a ir ao lugar sagrado, por uma rota que partiu da cidade de Oviedo até hoje chamada de Caminho Primitivo. Afonso II mandou construir uma igreja no local, que ao longo dos anos se tornou a catedral de Santiago de Compostela. Compostela vem de campus stellae, “campo da estrela”, em latim, em alusão ao sinal visto por Pelayo.
Em 1955, o arqueólogo Manuel Chamoso Lamas, descobriu no chão da catedral de Compostela uma lápide com uma inscrição que se referia ao bispo Teodomiro. Abaixo dela, havia ossos do que parecia ser um homem idoso. Anos depois, uma reavaliação dos ossos levou a alegações de que pertenciam a uma mulher.
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A nova pesquisa científica constitui “a primeira análise de ossos combinando técnicas osteológicas e biomoleculares, com o objetivo de estabelecer um perfil biológico detalhado do indivíduo e dar novos insights sobre sua cronologia, origem geográfica, dieta e status social”.
Entre outros testes, foi feita datação por radiocarbono a partir de um fragmento de costela, uma análise de DNA e outra sobre a estabilidade de isótopos estáveis de carbono e nitrogênio do esmalte de um dente pré-molar inferior.
Concluiu-se que se trata de “um homem idoso com uma constituição franzina” que teria cerca de 45 anos e cuja datação é consistente com a data da morte na lápide, 847 d.C. A partir das provas deduz-se também que se trata de um indivíduo que vivia perto da costa, o que era o caso do bispo de Iria Flavia, que é hoje o município costeiro de Padrón, na Galícia, Espanha.
Testes de DNA mostram características que levam à conclusão de que se trata de um indivíduo que viveu na Península Ibérica há 1,2 mil anos, uma vez que “está fora da variação europeia moderna em direção às populações modernas do Norte de África, e próximo dos ibéricos romanos, dos visigodos do sul da Península Ibérica e dos indivíduos islâmicos ibéricos”.
Depois de sua análise, os pesquisadores concluem que “apesar das limitações e cautela que devem ser usadas na interpretação dos nossos resultados, estes dados apoiam a possibilidade de que os restos humanos encontrados em associação com a lápide inscrita sob o chão da Catedral de Santiago de Compostela em 1955 sejam os do Bispo Teodomiro”.
“Essa informação contribuirá diretamente para a conservação dos restos mortais e para promover um local especial de culto na Catedral de Santiago, enriquecendo as visitas ao templo e à cidade, uma vez que Teodomiro representa uma figura chave não só para a história de Santiago de Compostela, Galiza, mas também para Espanha, para a Europa e para o catolicismo”, diz o artigo.
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