7 de jul de 2024 às 15:04
Diante de uma sociedade às vezes “anestesiada” e consumista, devemos lembrar o “escândalo” da nossa fé cristã — que Deus se fez homem e habita em cada um de nós, especialmente nos mais fracos, disse hoje (7) o papa Francisco em Trieste, Itália.
“Precisamos do escândalo da fé”, disse o papa durante a missa. “de uma fé arraigada no Deus que se fez homem e, portanto, de uma fé humana, de uma fé de carne, que entra na história, que acaricia a vida das pessoas, que cura os corações partidos, que se torna fermento de esperança e germe de um mundo novo”.
“Uma fé que desperta as consciências do torpor, que põe o dedo nas feridas da sociedade (…) uma fé inquieta, uma fé que se move de coração a coração, uma fé que acolhe os problemas da sociedade, uma fé que nos ajuda a vencer a mediocridade e a acídia do coração, que se torna um espinho na carne de uma sociedade muitas vezes anestesiada e atordoada pelo consumismo”, disse o papa em missa para cerca de 8,5 mil pessoas na Piazza Unità d’Italia, próxima ao porto de Trieste.
O papa Francisco celebrou a missa durante visita a Trieste para o encerramento da 50ª Semana Social dos Católicos, um evento anual organizado pela Conferência Episcopal Italiana, dedicado a promover a Doutrina Social da Igreja. O tema do encontro deste ano, que teve cerca de 1,2 mil participantes, foi a democracia.
Depois de discursar para os participantes do congresso que ocorreu entre quarta-feira (3) e hoje (7) no Centro de Convenções Generali, o papa foi à Piazza Unità d’Italia em um carrinho de golfe para a missa, concelebrada com quase 100 bispos e 260 padres.
Segundo a Sala de Imprensa da Santa Sé, o papa cumprimentou uma moradora de Trieste de 111 anos chamada Maria antes da missa.
“Deus se esconde nos cantos escuros da vida e das nossas cidades. A sua presença se revela precisamente nos rostos escavados pelo sofrimento e onde a degradação parece triunfar. O infinito de Deus está escondido na miséria humana, o Senhor se agita e se torna presença amiga precisamente na carne ferida dos últimos, dos esquecidos e dos descartados. Ali, Deus se manifesta”, disse o papa ao refletir sobre a humanidade de Deus na homilia.
“E nós, que às vezes nos escandalizamos inutilmente com muitas pequenas coisas, faríamos bem em nos perguntar: por que não nos escandalizamos diante do mal que se espalha, da vida humilhada, dos problemas do trabalho, do sofrimento dos migrantes?, disse Francisco.
A Semana Social dos Católicos foi realizada em Trieste, uma cidade portuária localizada em uma estreita faixa de território italiano no extremo nordeste do país, aninhada entre o Mar Adriático e a Eslovênia, com a fronteira com a Croácia próxima.
A posição da cidade fez dela um ponto de chegada comum para migrantes que chegam à Europa pela rota migratória dos Balcãs.
Em seu relatório anual, o grupo de ajuda Comitê Internacional de Resgate observou um aumento preocupante de crianças migrantes chegando à cidade.
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Segundo o comitê, cerca de 3 mil crianças desacompanhadas chegaram como migrantes a Trieste no ano passado, um aumento de 112% em relação a 2022.
O grupo de ajuda diz ter encontrado e fornecido ajuda a cerca de 16 mil pessoas que chegaram à estação de trem de Trieste pela rota migratória dos Balcãs no ano passado. Segundo o comitê, cerca de 68% dos migrantes eram do Afeganistão.
O papa disse hoje (7) em homilia para que continuem “trabalhando na linha de frente para difundir o Evangelho da esperança, especialmente para aqueles que chegam da rota dos Balcãs e para todos aqueles que, no corpo ou no espírito, precisam ser encorajados e consolados”.
No início da manhã, Francisco encontrou-se brevemente com um grupo de cerca de 150 migrantes e pessoas com deficiência.
O papa também se lembrou dos prisioneiros em sua reflexão. Trieste marcou as manchetes no início do ano devido à terrível superlotação na principal prisão da cidade.
“Por que permanecemos apáticos e indiferentes diante das injustiças do mundo? Por que não levamos a sério a situação dos encarcerados, que também desta cidade de Trieste se eleva como um grito de angústia? Por que não contemplamos a miséria, a dor, o descarte de tantas pessoas da cidade? Temos medo. Temos medo de encontrar Cristo ali.”
Ao final da missa, o papa rezou o ângelus, como faz todos os domingos. Antes de rezar a oração mariana, o papa falou sobre a recepção de migrantes em Trieste.
Trieste “é uma porta aberta para os migrantes — e para todos aqueles que mais lutam”, disse Francisco.
“Trieste é uma dessas cidades que tem a vocação de reunir pessoas diferentes: primeiro porque é um porto, é um porto importante, e depois porque está localizada na encruzilhada entre a Itália, a Europa Central e os Bálcãs”, disse o papa. “Nessas situações, o desafio para as comunidades eclesiais e civis é saber como combinar abertura e estabilidade, acolhida e identidade.”
Segundo a Sala de Imprensa da Santa Sé, o papa Francisco embarcou em um helicóptero no pier Audace depois de celebrar a missa e rezar o ângelus e chegou ao Vaticano pouco antes das 14h (horário local).
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