7 de mai de 2024 às 01:00
Em resposta a más interpretações do “terceiro segredo” de Fátima que algumas pessoas associam a um “caos apocalíptico”, o então cardeal Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, que mais tarde se tornou o papa Bento XVI, explicou o sentido do texto e como pode servir para compreender e viver melhor o Evangelho.
A terceira parte do segredo de Fátima foi revelada em 13 de julho de 1917 aos três pastorinhos na Cova da Iria e transcrita pela irmã Lúcia em 3 de janeiro de 1944. Foi publicado pelo secretário de Estado, cardeal Angelo Sodano, em 13 de maio de 2000.
As mensagens transmitidas pela Virgem Maria exortam ao arrependimento, à conversão, à oração e à penitência como meios de reparação pelos pecados.
Segundo o cardeal, o chamado à penitência é uma exortação à compreender os sinais dos tempos e à conversão. A penitência também é a resposta a um determinado momento histórico caracterizado por grandes dificuldades.
No segredo, há um elemento que se refere a um “anjo com a espada de fogo”. Para o cardeal, este elemento não é fantasia: refere-se às armas de fogo, que o próprio homem inventou.
Outro elemento da visão é a força que se opõe à destruição: o esplendor da Mãe de Deus, que vem da penitência. Isto significa que a penitência e a oração têm o poder de mudar as predições para o bem.
O melhor exemplo, afirma, é que o papa João Paulo II sobreviveu ao atentado de 13 de maio de 1981, na Praça de São Pedro, embora o segredo previsse a sua morte.
Sobre os três elementos que aparecem no segredo (uma montanha íngreme, uma grande cidade em meio a ruínas e uma grande cruz de troncos rústicos), Ratzinger assinala que a montanha é o caminho difícil que o homem deve atravessar e a cidade em ruínas representa as desgraças que o próprio homem causou com as guerras.
Em cima da montanha está a cruz, o objetivo final, onde a destruição se transforma em salvação. Por isso, esses símbolos têm um sentido de esperança.
O bispo vestido de branco (o papa) terá que subir essa montanha e atravessar a cidade em ruínas. O papa precede os outros, cujo caminho também passa em meio aos cadáveres. Bento indica que a passagem do papa simboliza o caminho da Igreja em meio à violência, às destruições e às perseguições.
“Na visão, podemos reconhecer o século passado como século dos mártires, como século dos sofrimentos e das perseguições contra a Igreja, como o século das guerras mundiais e de muitas guerras locais que encheram toda a sua segunda metade e fizeram experimentar novas formas de crueldade. No ‘espelho’ desta visão vemos passar as testemunhas de fé de decênios”.
Esta parte do segredo termina com um sinal de esperança: nenhum sofrimento é em vão. Porque o sangue dos mártires purifica e renova. Disto surgirá uma Igreja triunfante. O sangue derramado na cruz também representa a vivência atual do sofrimento de Cristo e da promessa de salvação.
O terceiro segredo de Fátima
Este é o terceiro segredo de Fátima, escrito pela irmã Lúcia:
“Escrevo em ato de obediência a Vós Deus meu, que me mandais por meio de sua excelência reverendíssima o senhor bispo de Leiria e da vossa e minha Santíssima Mãe.
Depois das duas partes que já expus, vimos ao lado esquerdo de Nossa Senhora um pouco mais alto um Anjo com uma espada de fogo na mão esquerda; ao cintilar, despedia chamas que parecia iam incendiar o mundo; mas apagavam-se com o contato do brilho que da mão direita expedia Nossa Senhora ao seu encontro: O Anjo apontando com a mão direita para a terra, com voz forte disse: Penitência, Penitência, Penitência! E vimos em uma luz imensa que é Deus: “algo semelhante a como se veem as pessoas em um espelho quando lhe passam por diante” um Bispo vestido de Branco “tivemos o pressentimento de que era o Santo Padre”. Vários outros Bispos, Sacerdotes, religiosos e religiosas subir uma escabrosa montanha, no cimo da qual estava uma grande Cruz de troncos toscos como se fora de sobreiro com a casca; o Santo Padre, antes de chegar aí, atravessou uma grande cidade meia em ruínas, e meio trêmulo com andar vacilante, acabrunhado de dor e pena, ia orando pelas almas dos cadáveres que encontrava pelo caminho; chegado ao cimo do monte, prostrado de joelhos aos pés da grande Cruz foi morto por um grupo de soldados que lhe dispararam vários tiros e setas, e assim mesmo foram morrendo uns após outros os Bispos, Sacerdotes, religiosos e religiosas e várias pessoas seculares, cavalheiros e senhoras de várias classes e posições. Sob os dois braços da Cruz estavam dois Anjos cada um com um regador de cristal na mão, neles recolhiam o sangue dos Mártires e com ele regavam as almas que se aproximavam de Deus”.
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