20 de dez de 2024 às 17:07
A Comissão Brasileira de Justiça e Paz e o Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB), órgãos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), encabeçam um abaixo-assinado que pede às autoridades que se “responsabilize de forma legal, rigorosa e exemplarmente todos os perpetradores da violência contra o Estado Democrático de Direito para que nunca mais se articule, neste país, tentativas de golpes contra o povo brasileiro”. O documento rechaça “qualquer iniciativa com vistas à impunidade dos golpistas” que teriam planejado, em 2022, impedir a posse do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.
O documento publicado no último dia 15 traz as assinaturas de pastorais, comunidades eclesiais de base, ordens religiosas, comissões diocesanas de Justiça e Paz, organizações leigas de ambientalistas, feministas, associações de profissionais, diretórios do Partido dos Trabalhadores, e do Partido Socialismo e Liberdade (Psol). São mais de 400 signatários.
O documento tem como epígrafe um trecho da encíclica Fratelli tutti, do papa Francisco. “Temos de nos exercitar em desmascarar as várias modalidades de manipulação, deformação e ocultamento da verdade nas esferas pública e privada. O que chamamos «verdade» não é só a comunicação de factos operada pelo jornalismo. É, antes de mais nada, a busca dos fundamentos mais sólidos que estão na base das nossas opções e também das nossas leis”.
O ex-presidente Jair Bolsonaro e mais 35 pessoas foram indiciados pela Polícia Federal no dia 21 de novembro, por suspeita de crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.
Segundo a PF, o objetivo dos golpistas era matar o então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, o vice, Geraldo Alckmin, e o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. A ação, denominada “Punhal Verde e Amarelo”, seria executada no dia 15 de dezembro de 2022 por militares com formação em Forças Especiais (FE).
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Para os órgãos da CNBB, “o Brasil não pode conviver passivamente com sucessivas tentativas de golpe à democracia gestadas por setores dos militares, das elites empresariais e do latifúndio, banqueiros, reacionários políticos, mídia empresarial e fundamentalistas religiosos (como alguns sacerdotes católicos apontados no inquérito da Polícia Federal e representantes de pastores evangélicos que manipulam a religião em associação com a extrema-direita)”.
O único sacerdote católico entre os 36 indiciados pela Polícia Federal em seu inquérito é o padre José Eduardo de Oliveira e Silva, da diocese de Osasco (SP). Ele é apontado como participante em uma reunião com dois dos demais indiciados. O padre tem 435 mil seguidores no Instagram e vídeos no Youtube assistidos com mais de 7 milhões de views.
Segundo os signatários da nota, “a participação de personagens das elites política, econômica e religiosa em associação com alguns dos militares de alta patente das Forças Armadas em golpes no passado e no presente explicita a relação autoritária que sustenta as estruturas de poder em nosso país”.
Ao final da nota, conclamam-se os “setores da sociedade civil, entidades de classe que defendem e lutam pelo Estado Democrático de Direito (como a OAB, ABI, Comissão Arns, entre tantas), entidades religiosas (como a CNBB, as igrejas e tradições que não se alinham à extrema-direita), sindicatos, movimentos sociais e outros organismos vivos que se manifestem publicamente demonstrando que no Brasil não há, nem haverá, espaço para quem atenta contra a democracia”.
“Aos que se dizem cristãos é imperioso lembrar: a verdadeira ética cristã aponta que omissão e conivência são tão graves quanto o pecado do ato doloso”, diz a nota.
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