23 de abr de 2024 às 15:19
O bispo da eparquia católica de Adigrat, que abrange a região de Tigrê, na Etiópia, dom Tesfasellassie Medhin, testemunhou em primeira mão o “sofrimento indizível” e a morte de fiéis na região instável que faz parte do chamado Chifre da África.
Em uma declaração que a ACI Africa, agência para a África do grupo ACI, obteve na última sexta-feira (19), dom Medhin pediu a implementação do acordo de paz assinado em 2 de novembro de 2022 em Pretória, na África do Sul, no qual o governo etíope e a Frente Popular pela Libertação de Tigrê (TPLF, na sigla em inglês) se comprometeram a “permanentemente silenciar as armas e acabar com os dois anos de conflito no norte da Etiópia”.
“Escrevo como líder religioso com profunda preocupação e sentindo a dor de dezenas de milhões de habitantes de nosso país, especialmente as crianças, os idosos e as mulheres de Tigrê”, disse dom Medhin.
“Sou testemunha de sofrimento indescritível, desespero, doença e morte ao meu redor devido a anos de conflito, seca e falta de chuva localizada, bem como falta de atenção para atender às necessidades básicas”, disse o bispo sobre a situação dos fiéis em Tigrê.
O conflito no Tigrê começou em novembro de 2020, supostamente quando a TPLF atacou a base do Exército do Governo Federal da Etiópia na região.
A TPLF e a população da região de Tigrê teriam se oposto à tentativa do primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, de centralizar o poder.
Em sua declaração, dom Medhin diz que milhões de pessoas foram deslocados por conflitos não só na região de Tigrê, mas também nas regiões vizinhas de Afar, Amhara e Oromia.
O bispo afirma que os esforços conjuntos da sua eparquia em parceria com outras entidades para chegar aos necessitados são insuficientes.
“Vemos a face humana das estatísticas que todos recebemos através de relatórios: aumento da desnutrição, menos da metade das necessidades satisfeitas no ano passado e ainda menos compromisso para satisfazer as necessidades em Tigrê este ano”, disse dom Medhin.
Ele destaca o apostolado dos agentes pastorais da eparquia de Adigrat, dizendo: “Abraçamos crianças tão desnutridas que parecem pele e ossos, ouvimos as famílias que lutam para fornecer pelo menos uma porção de uma única refeição todos os dias e todos os meses lamentamos por centenas de amados membros da comunidade que morrem de doenças das quais não teriam morrido se não sofressem de fome severa.”
“Nosso problema é holístico – social, político, econômico, psicológico e espiritual – para todo o Tigrê e também para as populações vizinhas que estão em situação semelhante”, disse o bispo de 71 anos, nascido na Etiópia, que lidera a eparquia de Adigrat desde sua ordenação episcopal em janeiro de 2002.
Ele destaca a importância da doutrina da Igreja Católica sobre a dignidade humana como importante e enfatiza a necessidade de proteger os vulneráveis. “Todo ser humano é um filho amado de Deus, merecedor de igual dignidade e cuidado”, disse o bispo.
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Ele condena os efeitos negativos da degradação ambiental, dizendo: “Nos próximos meses, vamos enfrentar impactos muito graves das alterações climáticas que nos atingirão este ano – prenunciando chuvas imprevisíveis, secas e inundações”.
Embora dom Medhin reconheça com apreço os esforços para aliviar o sofrimento do povo de Tigrê, ele alerta: “Não precisamos esperar que ocorra uma situação verdadeiramente catastrófica antes dar o alarme – estamos dando o alarme agora”.
“A população de Tigrê e das regiões vizinhas sofreu anos de guerra, seca e doenças – e demonstrou uma resiliência em que poucos conseguem acreditar – e rezamos para que consigamos superar esta crise”, disse o bispo.
“Faço este apelo aos respectivos governos e comunidades nacionais e internacionais para aliviarem o sofrimento e reduzirem o número de mortes causadas por situações tão terríveis – e para acelerarem a implementação do Acordo de Paz de Pretória”, disse dom Medhin ao pedir pela paz.
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