10 de fev de 2025 às 09:58
Cerca de 30 países africanos confirmaram sua participação numa campanha para acabar com o tráfico de pessoas organizada pela Rede Teológica e Pastoral Católica Pan-Africana (PACTPAN, na sigla em inglês).
A campanha, que começou na sexta-feira (8), dia da festa de santa Josefina Bakhita, ex-escrava de ascendência sudanesa e padroeira das vítimas do tráfico de pessoas, é destinada à oração e conscientização sobre o tráfico de pessoas.
Este ano, cerca de 30 países na África celebram a missa no que é provavelmente uma das maiores campanhas que os teólogos da PACTPAN organizaram para criar conscientização contra o tráfico. Marchas pacíficas também foram organizadas nos países que confirmaram sua participação na campanha com o tema “Restaurando a esperança na África: um chamado jubilar para acabar com o tráfico humano”.
A vice-presidente de Uganda, Jessica Rose Epel Alupo , fez um discurso de abertura sobre o tema da campanha. Em toda a África oriental, Uganda foi considerado o país mais hospitaleiro para refugiados, especialmente do Sudão do Sul — alguns deles vítimas de tráfico humano.
A campanha é coordenada pela freira Leonida Katunge, diretora de programas da PACTPAN, que falou sobre detalhes do evento com a ACI Africa, agência de notícias da EWTN na África.
Membro das Irmãs de São José da arquidiocese de Mombaça, Quênia, a irmã Katunge disse que um total de 22,5 mil pessoas de 35 países já se registraram para participar fisicamente da campanha por meio de manifestações pacíficas e eventos de oração.
Dos 35 países, dez não participarão de reuniões presenciais devido a instabilidades políticas, disse a irmã Katunge.
“Temos até dez países em que os membros não irão às ruas devido às suas atuais convulsões políticas”, disse a freira. “Entre eles está a República Democrática do Congo, onde há violência generalizada. Esses países acompanharão a transmissão ao vivo no canal da PACTPAN no YouTube. Estamos aqui para caminhar juntos, mesmo em plataformas de mídia social, para lutar nesta guerra”.
Entre os países que divulgaram seus programas para a campanha, especialmente no dia da festa de santa Bakhita, estão Nigéria, Serra Leoa, Zâmbia, Lesoto, Camarões, Tanzânia e Senegal.
No Sudão do Sul, Giningakpio Justin Dapu, que organiza a campanha da PACTPAN na diocese de Tombura-Yambio, disse à ACI Africa que cerca de mil pessoas na diocese do Sudão do Sul já se registraram para o grande evento.
“Mobilizamos 1,3 mil pessoas que participaram da campanha em 8 de fevereiro. Formamos uma equipe de 35 pessoas muito bem treinadas e bem informadas que estão encarregadas da logística da campanha. Elas são as encarregadas da preparação do terreno, da criação de conscientização e da mobilização”, disse Dapu.“Na verdade, como parte de nossa campanha contra o tráfico humano, planejamos iniciar um grupo devocional chamado Santa Bakhita para buscar profundamente sua intercessão nesta luta”.
Destacando os eventos que levaram à campanha da sexta-feira (8), a irmã Katunge disse: “Começamos convocando um webinar por meio de várias redes das quais sou membro. Então, alguns sobreviventes do tráfico humano falaram conosco. Então, achamos sensato envolver o continente, e foi isso que basicamente fizemos desde dezembro de 2024, e ainda estamos lutando para chegar lá”.
Katunge disse que a PACTPAN, ao longo dos anos, investiu em colaborações de base para abordar questões que afetam comunidades africanas, como o tráfico de pessoas. Ela disse que a visão compartilhada da PACTPAN de abordar o tráfico de pessoas ressoou com muitos líderes africanos, acrescentando que o Ano Jubilar 2025 da Igreja também inspirou ampla participação.
A freira, que liderou o comitê diretor nacional para os participantes quenianos no diálogo entre o papa Francisco e os jovens africanos, disse que a campanha contra o tráfico de pessoas está profundamente conectada ao tema do Ano Jubilar de 2025, “Peregrinos da Esperança”.
“Estamos nos baseando no chamado do Evangelho de Lucas à libertação e à justiça para todos os cativos e, desta vez, aos vinculados à escravidão moderna”, disse Katunge.
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Ela disse que a campanha da PACTPAN incorpora o apelo pela liberdade ao abordar a escravidão e a exploração modernas, incentivando a cura e fomentando a esperança entre as comunidades na África.
Katunge é uma advogada atuante na Suprema Corte do Quênia, com foco em direito de propriedade e direito de família, e descreveu a terrível situação do tráfico de pessoas na África, destacando casos de trabalho forçado, exploração sexual, tráfico de crianças e extração forçada de órgãos — que, segundo ela, “piora a cada dia”.
“Em minha pesquisa e na compilação do documentário, ouvi muitos casos de tráfico de mulheres da África ocidental para a Europa e o Oriente Médio”, disse a freira sobre o documentário que ela montou em maio do ano passado, que também mostra a exploração de crianças em zonas de conflito.
A marcha planejada pela PACTPAN contra o tráfico de pessoas é organizada em parcerias com redes religiosas, organizações não governamentais, organizações juvenis e agências governamentais e conta com um itinerário claro, com pontos de partida nas principais cidades africanas, mensagens de esperança, orações e momentos de silêncio pelas vítimas.
“Logística como transporte, segurança e cobertura da mídia estão sendo tratadas de forma colaborativa e local para garantir o sucesso”, disse Katunge.
A participação de uma vice-presidente das Irmãs de São José em Mombaça na campanha traz credibilidade, visibilidade e influência significativas ao evento, disse ela.
“Isso demonstra um alto nível de comprometimento político, encorajando outros líderes a priorizar os esforços anti-tráfico e amplifica o alcance da campanha em níveis nacional e regional”, disse Katunge à ACI Africa.
A PACTPAN organizou várias outras atividades no contexto das celebrações do Ano Jubilar 2025 para conscientizar contra o tráfico humano na África. Segundo Katunge, “a campanha vai até 2030 e a guerra continua”.
“Participaremos do dia da ONU para pessoas traficadas no dia 30 de julho deste ano até 2030. Planejamos ter uma equipe continental que lutará nesta guerra nesses anos”, disse a freira.
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Ela disse também que haverá orações inter-religiosas pelas vítimas do tráfico humano, workshops para educar as comunidades sobre como identificar redes de tráfico e eventos de arrecadação de fundos para apoiar os sobreviventes.
Fóruns de políticas também serão realizados para defender medidas mais rigorosas contra o tráfico, disse Katunge, acrescentando que festivais culturais também serão realizados para promover a unidade e a esperança no Ano Jubilar 2025, que o papa Francisco lançou oficialmente na véspera de Natal do ano passado com a abertura da porta santa da basílica de São Pedro, no Vaticano.
A representante da PACTPAN disse que a rede de teólogos africanos também planeja ter um centro na África em que os jovens, especialmente as garotas, serão equipados com habilidades para protegê-los dos traficantes.
“Dizer a essas garotas para pararem de ir para esses países onde são traficadas é uma coisa. Mas como as apoiaremos se elas ficarem?”, perguntou a freira.
“Queremos colaborar com os Estados para manter essas jovens em casa e dar a elas treinamento e empregos. É possível e temos certeza de que chegaremos lá”, disse Katunge.
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