8 de nov de 2024 às 12:49
Dom Luis Marín de San Martín é uma das figuras-chave do Sínodo da Sinodalidade. O papa Francisco o nomeou subsecretário desse evento, que o bispo espanhol disse ser “uma oferta de graça” e um apelo “à conversão pessoal”.
Com o recente encontro em Roma já concluído e o documento final à vista, dom Marín disse à ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, que a sinodalidade “é uma dimensão constitutiva da Igreja” e que, portanto, apesar do evento da assembleia ter terminado, “o processo continua”.
O bispo disse que essa dimensão “não é uma conquista” ou algo que se adquire, mas “existe e sempre existiu”. Dom Marín disse que “a Igreja ‘é’ sinodal” e que nessa fase de “implementação” se pretende, portanto, desenvolver essa dimensão, “tirar consequências e torná-la concreta na vida da Igreja”.
Para o agostiniano, o documento final “não é um livro de receitas de medidas ou um código de leis”, mas sim “abre portas, indica caminhos a seguir e promove processos”, com “velocidades, desenvolvimentos e concreções diversas, porque existem diferenças geográficas e culturais”, embora com o mesmo “depósito de fé: um só Senhor, uma só fé, um só batismo”.
Nesses quatro anos, disse o bispo, buscou-se “escutar a voz do Espírito para discernir como ser fiel ao Senhor e como viver e testemunhar o Evangelho no mundo de hoje”.
O bispo fala do processo como uma oportunidade de “renovação profunda”, que “provém da experiência de Cristo ressuscitado” e por sua vez orientada para a missão no mundo de hoje, assumindo a diversidade cultural e os diferentes desafios, “mas sempre em comunhão”.
Revisão do direito canônico em “chave sinodal”
Sobre a proposta do documento final de revisão do direito canônico em “chave sinodal”, dom Marín disse que “o Código de Direito Canônico é um instrumento prático”. Segundo ele, “o depósito da fé não muda, mas as leis da Igreja Católica estão sendo renovadas, para que se adaptem melhor e ajudem mais a missão salvífica que lhe foi confiada”.
“Pede-se uma revisão do Código de 1983 tendo em conta o atual desenvolvimento eclesiológico, para que possa fornecer formas, estruturas e procedimentos em chave sinodal”, disse.
O bispo disse à ACI Prensa que “há uma comissão de canonistas que está trabalhando” para rever as estruturas e processos existentes, para que sejam mais eficazes.
Entre os temas abordados, citou “a obrigação dos conselhos pastorais diocesanos e paroquiais; desenvolver caminhos para a colaboração leiga, integrando assim a variedade de ministérios; ampliar as possibilidades de exercício ministerial dos leigos” ou estabelecer “novas estruturas regionais ou continentais, como assembleias eclesiais e “especificar a forma de realizar a transparência, a responsabilização e a avaliação”.
Maior participação “sem secularizar o clérigo nem clericalizar o leigo”
Outra consequência do sínodo é o pedido de uma maior participação dos leigos nos “processos de tomada de decisão”, e que isso seja feito através de novas estruturas e instituições sinodais.
Para o bispo, a participação dos leigos não é uma concessão, “mas uma consequência do batismo”, pelo que “devem assumir toda a responsabilidade que lhes corresponde, sem laicizar o clérigo nem clericalizar o leigo”.
Dom Marín disse que cada batizado “deve se sentir envolvido na vida e na missão da Igreja e participar no discernimento para a tomada de decisões, buscando o seu bem”. Uma corresponsabilidade que, segundo o bispo, é diferenciada, pois “cada um participa na distinção dos seus diferentes ministérios e funções”.
“A autoridade na Igreja deve sempre ser entendida e exercida como serviço”
Ao citar o papa Francisco, dom Marín disse que “o modelo não é a pirâmide, nem a esfera, mas o poliedro”.
“O bispo e o pároco, para tomarem decisões, têm o dever de consultar e ouvir para discernir, por isso as organizações de participação têm que existir e funcionar. Depois, tomarão as decisões que lhes correspondem para o seu ministério e explicarão as decisões tomadas”, disse o bispo.
Dom Marín disse que, agora, “importa esclarecer os processos de decisão e de corresponsabilidade”, já que há questões “em que a decisão cabe apenas ao bispo ou ao pároco e outras que podem ser tomadas em outras instâncias”.
“A autoridade na Igreja deve sempre ser entendida e exercida como serviço. Da mesma forma, é importante ter presente o princípio da subsidiariedade, as questões devem ser resolvidas nas instâncias mais próximas das partes interessadas”, disse o subsecretário do sínodo.
“Nada impede que mulheres presidam cargos na Cúria Romana no futuro”
Sobre a participação de mulheres na Igreja, segundo dom Marín, o documento levanta, sobretudo, “a necessidade das mulheres assumirem o papel que lhes corresponde na Igreja, incluindo a participação nos ministérios”, ao dizer que, até recentemente, “surpreendentemente, os ministérios leigos estavam abertos apenas aos homens”.
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O bispo disse que o mesmo ocorre com os cargos de responsabilidade, “que podem ser ocupados por leigos, sejam homens ou mulheres”.
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“Na Cúria Romana já existem mulheres no secretariado de alguns dicastérios e nada as impede de presidir outros no futuro, como os leigos já fazem hoje”.
Dom Marín disse que em alguns lugares “as mulheres desempenham muitas tarefas pastorais, administrativas e de governo, e é aconselhável aprofundar esta linha”.
Sobre o parágrafo 60 do documento final do sínodo, o bispo disse que “também levanta a questão do diaconato, que é um ministério ordenado e não leigo”.
“É evidente que existiam diaconisas na Igreja primitiva. Mas foi um ministério ordenado? Quais eram suas funções? Foi o mesmo em todas as Igrejas locais? Para aprofundar o tema, o papa Francisco nomeou duas comissões. O trabalho de estudo continua”, disse dom Marín.
O bispo disse ser “importante notar que isso não significa acesso ao presbiterado e ao episcopado; apenas se estuda o tema do diaconato, que é um grau do sacramento da Ordem, mas que, como recorda o Concílio, não está orientado para o sacerdócio, mas para o ministério (os diáconos não são sacerdotes, como o são os sacerdotes e os bispos).
“O sínodo pede mais esclarecimentos”, disse dom Marín.
As celebrações litúrgicas como expressão da sinodalidade
Um dos parágrafos que recebeu mais votos contra foi “estudar como fazer das celebrações litúrgicas uma expressão da sinodalidade”. Trata-se do número 27, que recebeu 312 votos a favor (87,8%) e 43 contra (12,1%).
“Dada a importância da relação entre liturgia e sinodalidade”, disse dom Marín, “sugere-se que isso seja confiado a um grupo de estudo sobre como tornar as celebrações litúrgicas mais expressivas da sinodalidade”.
“A meu ver, isso se refere sobretudo a três linhas de aprofundamento: como fortalecer a comunhão, para que quem celebra seja a comunidade unida em Cristo ressuscitado e não uma soma de individualidades desconexas, desconhecidas e solitárias; como promover uma participação diferenciada, evitando considerar-se como mero espectador; como envolver todos nós na missão partilhada, na evangelização. Em suma, acredito que a chave é viver e tornar presente o amor (caritas), que nos identifica como cristãos”.
“É preciso superar a mentalidade de poder e desenvolver a mentalidade de serviço”
Dom Marín disse que a assembleia pede para “esclarecer quais são os critérios para a seleção dos bispos e como a Igreja local deve entrar no processo de seleção”.
O bispo disse ser “necessário superar a mentalidade do ‘poder’ e desenvolver a do ‘serviço’”.
“Não há dúvida de que quanto mais fechado for um grupo, maior será o risco de elitismo, por isso se pede um maior envolvimento do Povo de Deus”, disse dom Marín.
No entanto, o bispo disse que existem dificuldades práticas, especialmente nas grandes dioceses, onde o conhecimento dos possíveis candidatos é limitado.
“Encontramos outras dificuldades na participação: Só crentes? Os praticantes? Todos? Também na forma de fazer a consulta, evitando campanhas eleitorais e pressões de grupos organizados”.
“O princípio é claro: ampliar a consulta e proporcionar mais participação. Mas é necessário um estudo profundo e calmo. É por isso que o papa criou um grupo de trabalho sobre essa questão. Vamos aguardar as conclusões deles”, disse dom Marín.
“O depósito da fé não muda e não pode mudar”
Quanto a quem, “de boa vontade, temia uma mudança de doutrina, já viu que não é assim. O depósito da fé não muda e não pode mudar. Trata-se de aprofundá-lo, formular a sua expressão e desenvolvê-lo no tempo concreto, como fez a Igreja ao longo da sua história”, disse Dom Marín.
“O processo sinodal surge da ação do Espírito Santo e requer necessariamente a conversão do coração. Do contrário, não entenderemos nada. O fio condutor que une as diferentes partes do documento é, de fato, um convite à conversão: chamado pelo Espírito à conversão; conversão de relacionamento; conversão de processos; conversão de vínculos; conversão para a missão. Para isso é necessário que o amor seja verdadeiramente o fio condutor”, concluiu o bispo.
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