20 de nov de 2024 às 00:01
Hoje (20) é o Dia Nacional da Consciência Negra. Na Igreja, destacam-se algumas pessoas de origem afrodescendente que, na luta para alcançar a vocação à santidade, chegaram aos altares.
Abaixo, a história de alguns santos e beatos que mostram que a santidade não tem cor de pele nem nacionalidade.
1. São Martinho de Lima
São Martinho de Lima (ou são Martinho de Porres) nasceu em Lima, Peru, em 1579, era filho de um nobre espanhol de origem burguesa, Juan de Porres, e de uma negra livre, Ana Velázquez, natural do Panamá. Desde criança se preocupava com o sofrimento das pessoas, principalmente dos doentes e dos pobres.
Aprendeu o ofício de barbeiro e algo sobre medicina. Aos quinze anos, pediu para ser admitido como terciário no convento dos dominicanos da cidade de Lima.
Já no convento, trabalhava como enfermeiro, onde cuidava de quem chegasse à enfermaria e intercedia diante de Deus para que inúmeros milagres fossem realizados, principalmente curas.
São Martinho morreu em 1639, foi canonizado por são João XXIII em 1962 e sempre foi representado com uma vassoura na mão, símbolo do seu humilde serviço. Ele foi nomeado “Padroeiro da Justiça Social” e “Padroeiro Universal da Paz”. A festa dele é celebrada no dia 3 de novembro.
2. Santa Josefina Bakhita
Santa Josefina Bakhita nasceu no Sudão, África. Quando muito jovem, foi capturada na floresta e vendida como escrava. Passou pela propriedade de cinco senhores, sendo o quarto com quem mais sofreu humilhações e torturas.
Josefina entrou no noviciado do Instituto das Irmãs da Caridade de Veneza, junto com Minnina, sua amiga e filha de seu novo amo, Augusto Michieli. Ali, ela conheceu Deus, que sempre “permaneceu em seu coração” e lhe havia dado forças para suportar a escravidão, “mas só naquele momento ela soube quem Ele era”.
Em 9 de janeiro de 1890, recebeu o batismo, a primeira comunhão e a crisma. A partir desse momento, assumiu o nome de batismo de Josefina Margarita Afortunada. Em 7 de dezembro de 1893, aos 38 anos, tornou-se uma das irmãs da ordem.
Bakhita morreu em 1947 ,em Schio, Itália. São João Paulo II a beatificou em 1992 e declarou seu dia de culto em 8 de fevereiro. Finalmente, o mesmo papa a canonizou no ano 2000.
“Se eu encontrasse de novo aqueles negreiros que me sequestraram e também aqueles que me torturaram, me ajoelharia para beijar as suas mãos, porque, se não tivesse acontecido isto, eu não seria agora cristã e religiosa”, foram as palavras da santa que se tornou um ícone da história da África.
3. São Benedito, o Negro
São Benedito Manassari nasceu em San Fratello em Messina, Itália, em 1526. Era filho de descendentes de escravos africanos e por causa de sua cor de pele é conhecido como o Mouro.
Aos 21 anos entrou para uma comunidade de eremitas e viveu no Monte Pellegrino, em Palermo. Porém, quando o papa Pio IV dissolveu a comunidade, ela passou a fazer parte dos frades menores.
Durante 24 anos sua casa foi o convento de Santa Maria di Gesù, onde trabalhou como cozinheiro, superior e mestre de noviços. Era conhecido por sua humildade e por viver cheio de fé na providência divina.
Morreu em 1589, foi beatificado pelo papa Bento XIV, em 1743, e canonizado pelo papa Pio VII, em 24 de maio de 1807.
Embora são Benedito seja celebrado em todo o mundo no dia 4 de abril, data de sua morte, sua festa no Brasil ocorre em 5 de outubro por uma especial deferência canônica concedida à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em 1983. Assim, este santo franciscano passou a ser recordado imediatamente após o dia de são Francisco de Assis.
4. São Carlos Lwanga e companheiros mártires de Uganda
Carlos Lwanga e José Mkasa, junto com 20 companheiros, foram martirizados entre 1885 e 1887, em Uganda, por ter formado a sociedade dos Missionários da África, conhecida como os Padres Brancos, que se encarregou da evangelização daquele continente durante o século XIX.
O líder da comunidade católica, que já contava com cerca de 200 membros, era um jovem de 25 anos chamado José Mkasa (Mukasa) que trabalhava como mordomo da corte do rei Muanga.
José foi queimado em 15 de novembro de 1885 por confrontar uma decisão do soberano. Antes de morrer, disse a seus carrascos: “um cristão que dá a vida por Deus não tem medo de morrer”.
Em maio do ano seguinte, os cristãos, agora a cargo de Carlos Lwanga, foram capturados e apresentados ao rei, que lhes perguntou se pretendiam continuar a professar a sua fé, ao que responderam “Até à morte!”
Assine aqui a nossa newsletter diária
Em 3 de junho de 1886, doze deles foram queimados vivos e outros 10 cristãos foram esquartejados. Os 22 mártires foram beatificados em 6 de junho de 1920 pelo papa Bento XV. Depois, foram canonizados por Paulo VI, em 18 de outubro de 1964.
Receba as principais de ACI Digital por WhatsApp e Telegram
Está cada vez mais difícil ver notícias católicas nas redes sociais. Inscreva-se hoje mesmo em nossos canais gratuitos:
5. Beato Cyprian Michael Iwene Tansi
Cyprian Michael Iwene Tansi nasceu em 1903 em Igboezunu no sul da Nigéria. Apesar da desaprovação de seus pais, entrou no seminário de Igbarian em 1925 e foi consagrado padre em 1956.
Tansi era uma pessoa próxima do povo, preocupava-se principalmente com a pastoral da família, onde trabalhava para que os casais chegassem bem preparados para o matrimônio e promovia a castidade.
O padre também lutou pelo acesso à educação para as jovens, incentivou as pessoas a receber o sacramento da reconciliação e alimentar suas vidas com a Palavra de Deus e a sagrada comunhão.
Foi enviado à abadia cisterciense do Monte São Bernardo, Inglaterra, para seguir a vocação monástica e assim regressar à África à vida contemplativa. Em 1964, prestes a retornar a Camarões para formar a nova comunidade, morreu de aneurisma da aorta.
Foi beatificado por são João Paulo II em 22 de março de 1998 e é o primeiro beato na Nigéria.
6. Beato Tshimangadzo Samuel Benedict Daswa
Tshimangadzo Samuel Daswa nasceu em 16 de junho de 1946 na tribo Lemba, na diocese de Tzaneen, foi batizado em 21 de abril de 1963, aos 16 anos, com o nome de Benedict.
Daswa foi diretor da escola de ensino fundamental da aldeia Nweli, catequista, promotor de obras de caridade e reconhecido pela sua vida de oração, generosidade e bondade; características que ele também demonstrou com sua esposa, Shadi Eveline Monyai, uma luterana que se converteu ao catolicismo, e seus oito filhos.
Em 2 de fevereiro de 1990, caiu numa emboscada enquanto viajava em seu carro, em retaliação por se recusar a pagar dinheiro ao conselho de anciãos que planejava ir a um bruxo por causa de uma série de fortes tempestades na aldeia.
Daswa conseguiu fugir. Mas, diante da ameaça de matar a mulher que o escondia, ele se entregou aos seus assassinos dizendo: “Pai, recebe meu espírito”. Ele foi cruelmente assassinado, momento em que orou de joelhos.
Daswa foi beatificado pelo papa Francisco em 13 de setembro de 2015 e é o primeiro beato da África do Sul.
7. Bem-aventurada Nhá Chica
Francisca de Paula de Jesus nasceu em 1808 em São João del-Rei (MG), filha de escravos. Mudou-se com a mãe e o irmão para Baependi, no mesmo estado. Ficou órfã aos dez anos, seu irmão tinha 12 anos. Os dois ficaram sob os cuidados de Nossa Senhora, a quem Francisca logo passou a chamar de “Minha Sinhá”.
Foi de sua mãe que ela recebeu uma grande devoção a Nossa Senhora da Conceição, que carregou ao longo de toda a sua vida. Soube administrar bem tal herança espiritual e ficou conhecida como “mãe dos pobres”.
Nunca se casou, porque decidiu dedicar-se totalmente ao Senhor. Sendo analfabeta, gostava quando alguém lia para ela as Sagradas Escrituras. Não pertenceu a uma organização religiosa e era respeitada por todos que a conheciam, desde o mais humilde dos homens aos mais poderosos de seu tempo.
Uma das coisas que se destaca em sua vida é a novena que compôs à Nossa Senhora da Conceição. Do mesmo modo, em honra à Virgem, construiu ao lado de sua casa uma pequena igreja, onde rezava piedosamente por todas as pessoas que se recomendavam a ela.
Nhá Chica morreu em 14 de junho de 1895 e foi beatificada em maio de 2013.
8. Beato Francisco de Paula Victor
Francisco de Paula Victor nasceu em Campanha (MG), filho da escrava Lourença de Jesus, no dia 12 de abril de 1827. Oito dias depois, foi batizado e sua madrinha foi a dona da fazenda onde nasceu, Marianna Bárbara Ferreira, que teve papel fundamental para sua educação.
Exercia a profissão de alfaiate, mas, em seu coração, Deus o chamava ao sacerdócio. Esse sonho era praticamente impossível na época da escravidão. Mas, ele teve apoio em sua madrinha, que procurou o padre da cidade para saber se seria possível realizar o sonho de Victor.
A oportunidade apareceu em 1848, quando o bispo de Mariana (MG), dom Antônio Ferreira Viçoso, visitou Campanha. Victor logo o procurou e manifestou o desejo de ser padre, pedido que foi aceito. Ele ingressou no seminário em 5 de junho de 1849. Foi ordenado sacerdote em 14 de junho de 1851 e permaneceu em Campanha como coadjutor até o ano seguinte, quando foi transferido para Três Pontas (MG) como vigário e mais tarde pároco. Só saiu de lá 53 anos depois ao morrer, no dia 23 de setembro de 1905.
Seu ministério foi marcado pela catequese e instrução do povo, edificando a Escola Sagrada Família para crianças e jovens. Padre Victor pregou não só com as palavras, mas pelo seu testemunho de amor a Deus.
Padre Francisco de Paula Victor foi beatificado em 14 de novembro de 2015, na cidade de Três Pontas.
Deixe um comentário