9 de out de 2024 às 15:04
Um grupo de dez cientistas está processando a editora que retirou seus estudos que mostram os riscos à saúde causados de drogas abortivas.
O processo contra a editora americana Sage Publications, aberto em 3 de outubro no Tribunal Superior do Condado de Ventura, Califórnia, EUA, diz que os estudos dos pesquisadores foram retirados por causa da posição pró-vida dos autores.
O processo é sobre três estudos que a Sage publicou no Health Services Research and Managerial Epidemiology (HSRME) em 2019, 2021 e 2022.
Um dos artigos foi bastante citado no recente caso da Suprema Corte dos EUA Alliance for Hippocratic Medicine v. Federal Drug Administration (AHM x FDA), no qual uma coalizão de médicos da Alliance for Hippocratic Medicine (Aliança pela Medicina Hipocrática, AHM) e vários outros grupos tentaram obrigar a Food and Drug Administration (FDA, órgão do governo federal dos EUA) a revogar sua aprovação da droga abortiva mifepristona devido aos perigos associados à saúde e ao bem-estar das mulheres.
Os cientistas argumentam que, embora seus estudos tenham sido revisados por pares e tenham sido elogiados anteriormente por seu rigor acadêmico, a editora os retirou de má-fé por razões políticas.
Os cientistas estão sendo representados pela organização de defesa jurídica da liberdade religiosa Alliance Defending Freedom e pela firma conservadora de advocacia Consovoy McCarthy PLLC.
O que o estudo sobre aborto químico disse?
O estudo de 2021 citado no caso AHM x FDA diz que as visitas ao pronto-socorro “correm maior risco de ocorrer depois de um aborto químico do que depois de um aborto cirúrgico”.
O estudo mostrou que, num estudo de 423 mil mulheres submetidas a abortos químicos entre 1999 e 2015, houve 121.283 visitas subsequentes ao pronto-socorro até 30 dias depois do procedimento.
O estudo concluiu que “a incidência e a taxa de visitas ao pronto-socorro por aborto depois de qualquer aborto [químico] induzido estão crescendo, mas o aborto químico está consistentemente e progressivamente associado a mais morbidade de visitas ao pronto-socorro pós-aborto do que o aborto cirúrgico”.
O estudo também disse que há uma “tendência distinta de um número crescente de mulheres erroneamente codificadas como recebendo tratamento para aborto espontâneo no pronto-socorro depois de um aborto químico”.
Por que os estudos foram retirados?
Enquanto o caso AHM x FDA tramitava nos tribunais no ano passado, Chris Adkins, professor da Escola de Farmácia da Universidade do Sul em Savannah, Geórgia, escreveu à Sage acusando os autores dos três estudos de exagerar as descobertas e deturpar os dados de maneiras que eram “grosseiramente enganosas”.
A rede de notícias americana States Newsroom, primeira a divulgar as acusações de Adkins, disse que ele falou sobre os pesquisadores: “Não posso provar que houve intenção de enganar, mas tive dificuldade em encontrar uma razão alternativa para apresentar seus dados de uma forma que exagerasse a magnitude”.
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A States Newsroom também informou que Adkins estava preocupado com o status legal do aborto depois da Suprema Corte dos EUA anular em 2022 o caso Roe x Wade, decisão judicial que legalizou o aborto nos EUA em 1973.
“Agora tenho uma filha que nasceu num mundo onde não há Roe x Wade, nenhum reconhecimento federal de que as mulheres têm o direito à autonomia corporal”, disse Adkins. “Vou apoiá-la de todas as maneiras que puder”.
A Sage descobriu os autores do artigo tinham afiliação com uma ou mais organizações pró-vida, o Charlotte Lozier Institute, o Elliot Institute e a American Association of Pro-Life Obstetricians and Gynecologists (Associação Americana de Obstetras e Ginecologistas Pró-Vida). A Sage alegou que isso era um conflito de interesses em relação aos estudos sobre aborto.
A Sage também conduziu uma revisão por pares depois da publicação na qual alegou ter identificado “problemas fundamentais com o desenho e a metodologia do estudo, suposições factuais injustificadas ou incorretas, erros materiais na análise dos dados pelos autores e apresentações enganosas dos dados”.
Sage concluiu que os estudos demonstraram uma “falta de rigor científico” que “invalida as conclusões dos autores no todo ou em parte”.
Cientistas respondem
No processo, os autores dos estudos alegam que “cumpriram todas as diretrizes de submissão e todos os requisitos dos acordos de publicação da Sage”.
O processo diz que “depois de cada submissão, a HSRME conduziu uma revisão por pares de cada artigo, que a Sage afirma ser completa e rigorosa” e que “depois da revisão por pares, a HSRME aceitou todos os três artigos para publicação”.
Segundo o processo, as tentativas dos autores de responder às acusações e provar a validade científica de seus estudos foram rejeitadas e ignoradas pela Sage.
Além de ter seus estudos retirados, o principal pesquisador associado aos artigos, James Studnicki, foi removido do conselho da HSRME sem qualquer aviso prévio e sem nenhuma explicação além de sua associação com os artigos retirados.
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Os pesquisadores dizem que a Sage intencionalmente tentou desacreditá-los e arruinar suas reputações por causa de sua posição pró-vida.
“A irregularidade de Sage”, diz o processo, “causa danos enormes e incalculáveis à reputação profissional dos autores, como Sage pretendia”.
Phil Sechler, advogado sênior da Alliance Defending Freedom, disse ao anunciar o processo que “a política nunca deve influenciar a ciência, especialmente quando essa ciência é vital para salvar e proteger vidas”.
“A Sage puniu esses cientistas altamente respeitados e credenciados simplesmente porque eles acreditam na preservação da vida desde a concepção até a morte natural”, disse Sechler. “Essas ações causaram danos irreparáveis aos autores desses artigos, e estamos pedindo à Sage que venha à mesa de arbitragem — como é legalmente obrigada a fazer — anular as retratações e remediar os danos à reputação que os pesquisadores sofreram nas mãos dos lobistas do aborto.”
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