1 de out de 2024 às 09:34
A Conferência Episcopal Peruana (CEP) informou em 25 de setembro que o papa Francisco ordenou à sociedade de vida apostólica Sodalício da Vida Cristã a expulsão de dez membros, medida que causou surpresa na arquidiocese de Denver, EUA, que mantém vínculo pastoral com alguns dos expulsos.
A CEP publicou em seu site um comunicado (em espanhol) da nunciatura apostólica no Peru informando que o papa, “depois de avaliar as defesas correspondentes às denúncias surgidas durante a missão especial” — enviada a Lima em julho do ano passado —, aprovou a expulsão dos membros dessa sociedade de vida apostólica.
Os expulsos são o ex-superior geral, Eduardo Antonio Regal Villa; o arcebispo emérito de Piura, Peru, dom José Antonio Eguren Anselmi; os ex-superiores regionais, o padre Rafael Alberto Ismodes Cascón e Erwin Augusto Scheuch Pool; os ex-formadores Humberto Carlos Del Castillo Drago, Oscar Adolfo Tokomura e o padre Daniel Alfonso Cardó Soria.
Os ex-integrantes Ricardo Adolfo Trenemann Young e Miguel Arturo Salazar Steiger também foram expulsos; e também o jornalista Alejandro Bermúdez Rosell, que até dezembro de 2022 atuou como diretor da ACI Prensa e do Grupo ACI, agências de notícias pertencentes à EWTN News desde 2014.
A nota da nunciatura diz que para “tomar tal decisão disciplinar foi considerado o escândalo produzido pela quantidade e gravidade dos abusos denunciados pelas vítimas, particularmente contrário à experiência equilibrada e libertadora dos conselhos evangélicos no contexto do apostolado”.
O texto menciona casos de abusos físicos, de consciência, espiritual, de cargo e de autoridade, na administração de bens eclesiásticos e no exercício do apostolado do jornalismo, mas não detalha quais cargos estão associados a cada membro.
O comunicado conclui ao dizer que “o Papa Francisco junto com os bispos do Peru e dos lugares onde está presente o Sodalitium de Vida Cristã, entristecidos pelo ocorrido, pedem perdão às vítimas e unem-se ao seu sofrimento. Da mesma forma, pedem a essa sociedade de vida apostólica que inicie um caminho de justiça e reparação”.
Surpresa na arquidiocese de Denver
No dia 25 de setembro, a arquidiocese de Denver, EUA, onde há uma comunidade do Sodalício, expressou em comunicado sua surpresa e tristeza pela notícia da expulsão, “baseada em acusações ocorridas há décadas na América do Sul”.
“Embora a Arquidiocese esteja trabalhando ativamente para compreender todo o alcance da investigação da Santa Sé, não podemos comentar os detalhes. Essa notícia é inconsistente com a nossa experiência de longa data com homens que serviram na Arquidiocese de Denver”, diz o comunicado.
O texto diz que “entre os citados que moram aqui, o padre Daniel Cardó serviu nobre e fielmente no Colorado durante 17 anos. Durante a sua estada aqui, o Padre Cardó não enfrentou nenhuma ação disciplinar contra ele. Ele é amado por seus paroquianos e altamente respeitado na comunidade.”
“A outrora moribunda comunidade paroquial do Santo Nome em Sheridan está agora prosperando devido ao seu compromisso com o Senhor e com aqueles a quem serve”, diz o comunicado sobre o padre.
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No comunicado, a arquidiocese liderada por dom Samuel Aquila diz que “da mesma forma, Eduardo Regal e Alejandro Bermúdez serviram fielmente e com distinção na Arquidiocese de Denver e as conclusões contra eles são profundamente decepcionantes, para dizer o mínimo”.
O caso Sodalício
O Sodalicio de Vida Cristiana foi fundado no Peru em 1971 por Luis Fernando Figari, acusado de abuso sexual e expulso dessa sociedade de vida apostólica pelo papa Francisco em 14 de agosto deste ano, depois de relatório de missão especial dirigida pelo arcebispo de Malta, dom Charles Scicluna, secretário adjunto do Dicastério para a Doutrina da Fé, e monsenhor Jordi Bertomeu, oficial do mesmo dicastério.
Desde 2015, o Sodalicio já enfrentava acusações públicas de abuso sexual e de poder depois da publicação do livro Mitad Monjes, Mitad Soldados, dos jornalistas peruanos Pedro Salinas e Paola Ugaz.
Em maio de 2016, a Santa Sé nomeou o então arcebispo de Indianápolis, EUA, dom Joseph cardeal Tobin, como delegado do SCV. Entre outras funções, dom Tobin tinha de ajudar o seu governo geral nas decisões a tomar “sobre as acusações feitas ao fundador”.
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Em fevereiro de 2017, o SCV apresentou seu relatório (link em espanhol) sobre casos de abusos cometidos dentro da instituição depois de uma investigação feita por especialistas internacionais que identificaram Figari, Germán Doig (vigário geral que morreu em 2001) e os ex-sodálites Virgilio Levaggi e Jeffrey Daniels como supostos abusadores.
Em 10 de janeiro de 2018, a Santa Sé nomeou o bispo de Jericó, Colômbia, dom Noel Londoño, como comissário apostólico e o frei Guillermo Rodríguez como vice-comissário. Ambos investigaram o estatuto do SCV e apresentaram ao papa Francisco um conjunto de reformas que foram aprovadas pelo papa em 13 de dezembro de 2018.
Em janeiro de 2019, foi informado que a Congregação – hoje Dicastério – para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica elegeu o sodálite José David Correa como o novo superior geral por seis anos.
Em 30 de outubro de 2021, Correa foi recebido pelo papa Francisco, que foi informado sobre as mudanças que estavam sendo realizadas para a “renovação integral” da comunidade, segundo relatado pela sociedade de vida apostólica.
Correa também entregou ao papa a documentação “do processo de escuta, atendimento e reparação das vítimas”, falou sobre as ações realizadas para prevenir abusos e deu informações “sobre a situação dos atuais processos legais existentes no Peru”.
Em 1º de dezembro de 2023, o papa Francisco recebeu novamente José David Correa no âmbito da Assembleia da União dos Superiores Gerais realizada em Roma.
O Sodalício disse que o seu superior geral deu ao papa informações atualizadas sobre a realidade da sociedade de vida apostólica, “abordando vários aspectos ligados à vida e à missão apostólica da nossa comunidade”.
No dia 14 de agosto de 2024, depois de tomar conhecimento da expulsão de Figari – solicitada pela SCV à Santa Sé em 2019 – a sociedade de vida apostólica publicou um comunicado (em espanhol) no qual reitera seu compromisso com a renovação, seu pedido de perdão e sua solidariedade às vítimas.
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