Antífonas de Nossa Senhora do Ó são caminho espiritual para preparar uma boa confissão, diz liturgista

Antífonas de Nossa Senhora do Ó são caminho espiritual para preparar uma boa confissão, diz liturgista

Quem reza a liturgia das horas entoa hoje, na oração das vésperas, a antífona: “Ó Sabedoria, que saístes da boca do Altíssimo, e atingis até os confins de todo o universo e com força e suavidade governais o mundo inteiro: Oh, vinde ensinar-nos o caminho da prudência”.

É a primeira das sete antífonas do Ó, como são conhecidas por causa da interjeição que dá início a cada uma delas. Elas introduzem, na última semana antes do dia do Natal, o cântico do Magnificat, oração que a Virgem Maria fez a Deus em agradecimento por estar grávida do Filho de Deus.

Elas deram origem à devoção mariana de Nossa Senhora do Ó ou Nossa Senhora da Expectação.

A festa de Nossa Senhora do Ó foi instituída no século VI, pelo X Conselho de Toledo, pelo bispo de Braga, em Portugal, “dom Potâmio”, mas “também pelos testemunhos de são Martinho de Dume”, pela “influência dos espanhóis, santo Eugênio III de Toledo, são Frutuoso de Braga, santo Idelfonso, santos que promoveram muito” a devoção da festa de Nossa Senhora da Expectativa, Nossa Senhora do Ó,  disse o padre e liturgista Alexandre Nunes, dos Legionários de Cristo, à ACI Digital.

As antífonas de Nossa Senhora “fazem um caminho, um movimento da inteligência, do coração, dos nossos sentidos para nos dirigirmos a uma preparação” ao Natal, disse padre Alexandre Nunes. Elas sempre se dirigem a Jesus com o “Ó” e o chamam de “Sabedoria”, “Adonai”, que é “Senhor” em hebraico, “Raiz de Jessé”, “Chave de Davi”, “Oriente”, “Rei das Nações”, “Emanuel”, atributos dados ao Messias no Antigo Testamento.

“Algo muito interessante dessas antífonas do “Ó” é que se a gente pega ela do fim ao começo ou seja, do dia 23 ao dia 17, as primeiras palavras, tirando o “Ó”, obviamente, vemos que em latim, as palavras iniciais aparece esse acróstico, assim se chama quando a gente pega as iniciais de trás para frente, que diz Ero Cras, que significa “Virei amanhã”, que “também coincide com esse anúncio da vinda de Jesus: “Virei amanhã”, disse Nunes.

Para o liturgista, o objetivo da festa de Nossa Senhor do Ó é “buscar acompanhar Nossa Senhora, estar junto dela nessa sua espera pela vinda do Salvador que ela levava já no seu ventre”. Por isso ela é “padroeira, intercessora das grávidas porque ela é também esperou o nascimento de um filho e, não era qualquer filho, era o próprio filho de Deus, a grandeza do Salvador do mundo prometido já desde os antigos profetas durante muitos milênios e Ele estava aí no ventre dela”.

Devoção no Brasil

A devoção à Nossa Senhora do Ó chegou ao Brasil pelos portugueses em Pernambuco e logo se espalhou por outras regiões do país. Várias igrejas do Brasil têm Nossa Senhora do Ó ou Nossa Senhora da Expectação como orago. Há o santuário Nossa Senhora do Ó, no distrito de Mosqueiro, em Belém (PA) e muitas paróquias espalhadas pelo Brasil como Nossa Senhora em São Miguel dos Campos e Traipu, em Alagoas; em Ipojuca e em Paulista, em Pernambuco; em Nísia Floresta e em Serra Negra do Norte, no Rio Grande do Norte. Há a paróquia Nossa Senhora da Expectação, em Icó (CE) e na Freguesia do Ó (SP), bairro que derivou seu nome do nome da paróquia. Em Sabará, (MG) há a capela Nossa Senhora da Expectação do Parto ou capela do Ó.

A devoção em Mosqueiro remonta à criação da primeira paróquia do local, em 1868, que tinha como padroeira Nossa Senhora do Ó, segundo a arquidiocese de Belém.  Em Alagoas, a devoção de Nossa Senhora do Ó iniciou no século XVIII e está associada à Ordem Terceira do Carmo, relata a arquidiocese de Maceió.

Em Ipojuca (PE), a padroeira Nossa Senhora do Ó é festejada duas vezes no ano: dia 18 de dezembro, data da santa e no 1º domingo de fevereiro, data da festa da santa no calendário cultural do Ipojuca. Em Nísia Floresta (RN), Nossa Senhora do Ó é celebrada há mais de 190 anos e em Icó (CE) desde 1728, quando sua primeira igreja passou a ser chamada Nossa Senhora da Expectação. Em Sabará (MG), a devoção de Nossa Senhora da Expectação foi difundida pela família do bandeirante Bartolomeu Bueno e cresceu ainda mais com a construção da capela em honra à santa, em 1717. Em São Paulo, esta devoção surgiu com o bandeirante paulista Manuel Preto que era devoto da santa. Ele era herdeiro das terras do futuro bairro da Freguesia do Ó, fundado em 1580 e construiu a primeira igreja de Nossa Senhora da Expectação do Ó, em 1610. Como estava em ruínas, a igreja foi substituída por uma nova em 1796.

Antífonas do “Ó” ajudam no sacramento da confissão

As Antífonas do Ó também “podem ajudar na confissão”, segundo o liturgista.  Porque “em cada uma das antífonas” contemplamos “os mistérios de Nosso Senhor anunciados no Antigo Testamento e, realizados num Novo”, e assim, “podemos também dentro desta espera, preparar o nosso coração”, com o desejo de conversão e nos purificando “também dos nossos pecados” para participar dessa “grande celebração, essa grande vinda do nosso Salvador”.

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Ele contou que, em 1444, um monge, mestre em Teologia do mosteiro de Vadstena, na Suécia, chamado Magnus Unnonis, tinha a função de confessor no mosteiro. Para preparar as freiras para a confissão, Unnonis teve a ideia de fazer um “caminho espiritual” com as antífonas do “Ó”. Em um quadro com quatro colunas, ele associou cada antífona do “Ó, na primeira coluna, a um acontecimento que a antífona evoca”, um pecado capital que se liga a isso, “no sentido que é o contrário daquilo que se quer viver”, e, na última coluna “um dom do Espírito Santo, aquilo que queremos pedir para poder alcançar a santidade”.

O monge Magnus Unnonis criou em 1444, este caminho espiritual com as antífonas do
O monge Magnus Unnonis criou em 1444, este caminho espiritual com as antífonas do “Ó”. ACI Digital

Isso permitia “um exame sério de contrição e uma boa confissão, como uma preparação séria, eficaz para a celebração do grande mistério da Encarnação que é o Natal, o nascimento de Jesus”, explicou o legionário.

“Dentro das sete invocações da antífona do Ó, a primeira é a sabedoria. Então, Magnus coloca como acontecimento da sabedoria a Encarnação. Essa sabedoria é Deus”, disse o sacerdote. “A antífona do “Ó” fala da sabedoria, faz essa relação com a Encarnação” e o pecado capital “é o orgulho, porque na Encarnação, Jesus se faz pequeno, se faz uma criatura”. O dom do Espírito Santo “que pode ajudar-nos a sermos humildes, a lutar contra o orgulho é o temor do Senhor”.

A segunda antífona é “Ó Adonai”, Deus que se fez carne na Natividade. “O pecado capital é a inveja, que vai contra essa grande alegria do nascimento e logo, o dom do Espírito Santo que ajuda a vencer a inveja é a piedade”.

“A piedade que nos faz também humildemente buscar unirmos a Deus através da oração. A piedade que é também fazer sacrifícios, detalhes de amor para com o Nosso Senhor. Não querer ser mais do que Ele, mas, querer alcançar Dele as graças que necessitamos”.

A terceira antífona é “Ó raiz de Jessé”, que fala dos “descendentes de Jessé e toda a sua história”, mas também “a Paixão que teve Nosso Senhor” com “o seu povo”. O pecado capital “em relação a regência e a paixão é a ira. A ira que vai contra a bondade, o amor de Deus, que tanto mal faz há tantos nossos irmãos. E o dom do Espírito Santo é a ciência”. “Nós raciocinamos quando nós buscamos a verdadeira ciência. A ciência que vem de Deus realmente faz equilibrar as coisas”.

A quarta, “Ó Chave de Davi”. O “acontecimento que está ligado a Chave de Davi é o descenso da cruz e à Mansão dos Mortos”. “Jesus, morrendo na cruz, Ele sendo Deus, pagando na sua carne o resgate” e com isso, “pôde reabrir as portas do paraíso”. O pecado capital “que tem relação a isso é a preguiça”.

“A preguiça em não querer fazer nada e não querer se salvar. Essa preguiça que também atinge a vida espiritual é a acídia, com que vamos deixando de rezar até que temos um rechaço na vida de oração, na vida de sacramentos. O dom do Espírito Santo que nos ajuda a vencer a preguiça é a fortaleza. A fortaleza que tem como imagem a espada e o escudo. O escudo para defender-nos das tentações e a espada para espantá-las”.

A quinta antífona é “Ó Sol Nascente”. O acontecimento é “a Ressurreição”, “a vitória de Cristo sobre a morte sobre o pecado”. O pecado capital “que vai unido a tudo isso é a avareza”, que “nos deixa obscurecidos por esse desejo de alcançar as certezas que nos deixa amarrado a esse mundo”, pela busca “dos bens pelos bens, e não buscar possuir as coisas para ajudar aos outros”. O dom do Espírito Santo “que combate à avareza é o conselho”, que “nos aconselha a saber “bem que devemos fazer com tudo que nós temos”, “qual é o nosso objetivo aqui na terra, sabemos bem decidir as coisas”.

A sexta é “Ó Rei dos gentios”. O acontecimento “é a ascensão de Jesus ao céu”. O pecado capital “contrário a tudo isso é a Luxúria, onde buscamos os bens, os prazeres terrenos, e nos debruçamos a isso sem buscar as coisas do alto, as virtudes, a continência”. O dom do Espírito Santo “é o entendimento, onde nós sabemos distinguir o bem do mal, onde nós escolhemos as coisas boas, o bem” e “combatemos o mal, nos afastamos do mal”.

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A última antífona é “Ó Emanuel”, o Deus conosco. O acontecimento “é a Parusia, a segunda vinda de Jesus”, que “tem o aspecto escatológico dos acontecimentos finais da nossa fé”. O pecado capital “que vai contra isso foi a gula, que nos dá “o prazer de comer mais do que nós necessitamos. A gula também tem outros aspectos, não só dá comida, mas a gula de querer tudo para nós”. O dom do Espírito Santo “é a sabedoria, que nos faz sermos prudentes também”. “A sabedoria no sentido de compreender sabiamente aquilo que realmente necessitamos e aquilo realmente que nos fará bem e o que realmente é para nós. Uma pessoa sábia é aquela que encontra as respostas certas, a quantidade certa, as medidas certas para atuar”.

FONTE: ACI Digital

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Ivaldo Lima

Graduado em Sistema para Internet e Comunicação Social, Radialista com especialização em Marketing Digital!
Graduando em Teologia Católica.
Pós-Graduação em Doutrina Social da Igreja e Ordem Social!