10 de mai de 2024 às 16:29
“O problema do nosso mundo não são as crianças que nascem – é o egoísmo, o consumismo e o individualismo, que tornam as pessoas plenas, solitárias e infelizes”, disse o papa hoje (10) ao público reunido no Auditorium della Conciliazione, em Roma.
O papa falava aos participantes do encontro “O Estado Geral da Natalidade”, que na edição deste ano tem como tema “Mais Jovens, Mais Futuro”. É a quarta edição do encontro, lançado em 2021 pelo então primeiro-ministro italiano Mario Draghi e o presidente do Fórum de Associações Familiares, Gigi De Palo.
A Itália, assim como muitos países da Europa Ocidental, vem enfrentando uma crise demográfica aguda nos últimos anos. Os nascimentos na Itália caíram para um mínimo histórico em 2023. O escritório nacional de estatísticas de Itália registrou 379 mil nascimentos no ano passado, uma queda de 3,6% em relação a 2022 e de 34,2% em relação a 2008.
Chegando pouco depois das 9h, o papa Francisco sentou-se no centro do palco, acompanhado por crianças sentadas em ambos os lados, e fez um discurso que, embora cauteloso e às vezes de tom terrível, também estava enraizado na esperança, com o papa argumentando que é “importante reunir-se e trabalhar em conjunto para promover as taxas de natalidade com realismo, visão e coragem”.
“O número de nascimentos é o primeiro indicador da esperança de um povo. Sem crianças e jovens, um país perde o desejo pelo futuro”, disse o papa.
“Infelizmente, se confiarmos nestes dados, seríamos forçados a dizer que a Itália está perdendo progressivamente a esperança no futuro, como o resto da Europa”, disse Francisco.
“O Velho Continente transforma-se cada vez mais num continente velho, cansado e resignado, tão empenhado em exorcizar a solidão e as ansiedades que já não consegue desfrutar, na civilização do dom, a verdadeira beleza da vida”, continuou Francisco.
O papa repreendeu duramente o alarmismo populacional impulsionado por algumas teorias como a do malthusianismo, que defende que as taxas de natalidade não controladas vão esgotar rapidamente os recursos agrícolas, levando à fome e à guerra. O papa chamou essas teorias de “há muito desatualizadas”.
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“A vida humana não é um problema, é uma dádiva”, disse o papa com um tom bem diferente.
O papa abordou os efeitos das mudanças climáticas, sugerindo que não são efeitos do crescimento populacional, mas sim uma consequência dos modelos econômicos prevalecentes e das atitudes dos consumidores, ou do “materialismo desenfreado”, que “ataca a existência das pessoas e da raiz da sociedade ao mesmo tempo”.
“O problema não é quantos de nós existem no mundo, mas que mundo estamos construindo. Não são as crianças, mas o egoísmo, que cria injustiças e estruturas de pecado, a ponto de entrelaçar interdependências prejudiciais entre sistemas sociais, econômicos e políticos”, acrescentou Francisco.
O papa também apelou à mudança a nível institucional, implorando aos governos para que liderem iniciativas pró-família para que as mães não estejam na posição de “escolher entre trabalhar e cuidar dos seus filhos” e para que os casais mais jovens não sejam confrontados com “o fardo de insegurança no emprego e incapacidade de comprar uma casa.”
Em consonância com essa reflexão mais ampla sobre a importância da família, o papa Francisco destacou a importância de valorizar os idosos e chamou a ostracização dos idosos de “suicídio cultural”.
“O futuro é feito pelos jovens e pelos velhos juntos, pela coragem e pela memória, juntos”, continuou o papa.
Apesar das exigentes exigências para inverter as tendências negativas, o papa terminou o seu discurso com um tom mais otimista, encorajando os jovens a não “desistir” e a “ter fé”.
“Sei que para muitos de vocês o futuro pode parecer perturbador e que, entre taxas de natalidade, guerras, pandemias e mudanças climáticas, não é fácil manter viva a esperança. Mas não desistam, tenham fé, porque o amanhã não é algo inevitável: construímo-lo juntos, e neste ‘juntos’ antes de tudo encontramos o Senhor”, disse o papa.
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