A tecnologia está nos custando nossa humanidade, dizem especialistas

A tecnologia está nos custando nossa humanidade, dizem especialistas

A tecnologia está roubando nossa humanidade, transformando os humanos, em alguns aspectos em mentes “desencarnadas”, disse Paolo Carozza, professor de direito na Universidade de Notre Dame, nos EUA, no sábado (15), em painel de discussão na semana de eventos New York Encounter deste ano.

Tal noção pode ter soado como ficção científica não muito tempo atrás. Mas essa “desencarnação” — ou “esquecimento da centralidade do corpo humano”, como Carozza colocou — define quem somos como cultura hoje, graças aos avanços tecnológicos que tornaram as coisas cada vez mais e sedutoramente convenientes, disse ele.

Carozza, atuando como moderador, foi acompanhado no painel por Christine Rosen, autora de The Extinction of Experience: Being Human in a Disembodied World, e por O. Carter Snead, professor de direito e bioeticista de Notre Dame, autor de What It Means to Be Human: The Case for the Body in Public Bioethics

Realizado no Metropolitan Pavilion no bairro de Chelsea da cidade de Nova York, o New York Encounter é uma conferência cultural anual e abrangente organizada por membros do movimento católico Comunhão e Libertação. O evento de três dias, gratuito e transmitido ao vivo online, terminou ontem (16).

Na conversa, Carozza, Rosen e Snead se concentraram na medida em que a experiência humana se tornou algo cada vez mais isolado.

“Prefiro chamar um carro com o apertar de um botão, nunca falar com o motorista e ser deixado no meu local. Gostaria que minha comida fosse entregue na minha porta, sem nunca ter que olhar nos olhos das pessoas que a prepararam ou entregaram”, disse Rosen, resumindo a predileção atual pela conveniência.

Ela disse que o tempo gasto nas mídias sociais é mais do que simplesmente tempo desperdiçado, mas muda a maneira como nos vemos e como nos relacionamos com os outros.

“Começamos a preferir a comunicação mediada à comunicação face a face. Começamos a desconfiar de nossas próprias respostas emocionais às coisas, a menos que elas sejam refletidas numa página de mídia social e recebamos curtidas suficientes para elas. Nesse sentido, estamos nos habituando a uma maneira profundamente desencarnada de buscar aprovação, de entender o mundo em que vivemos”, disse.

“Acho que de maneiras muito mundanas, nossa experiência diária se deteriorou por causa dessa mentalidade, que cresceu não com alguma intenção nefasta, mas ao longo do tempo. Temos hábitos mentais que se formaram”, disse Rosen.

“Você pisa numa plataforma de metrô e as pessoas são mais rudes. Parece haver mais hostilidade, raiva e impaciência”, disse.

Indiferença para com os vulneráveis

Os mais vulneráveis ​​da sociedade, como idosos e crianças, sofrem o impacto desse hábito desencarnado de ser, disse Rosen.

Ela citou o exemplo de um robô de “telepresença” que dá um diagnóstico fatal de câncer a um paciente num hospital e de uma casa de repouso japonesa que dá aos seus residentes animais robóticos para simular o conforto do toque humano.

Essa preferência pela conveniência e a evitação de encontros presenciais impedem o florescimento humano, segundo Snead.

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“As virtudes que você precisa para florescer como um ser humano corporificado inserido em redes de dar e receber também são perdidas. Se você pensa na vida como um consumidor, você não está pensando nas virtudes da doação não calculada, só na generosidade, hospitalidade, misericórdia, que é acompanhar os outros em seu sofrimento como se fosse seu próprio sofrimento”, disse ele.

As consequências desse egoísmo resultam na instrumentalização de outros, com consequências fatais, disse Snead. Ele falou sobre os avanços na tecnologia reprodutiva que permitem a seleção de embriões com base no QI (e a eliminação daqueles considerados insuficientemente inteligentes), e a legislação sobre suicídio assistido que tem um viés a favor de encorajar pacientes idosos a acabar com suas vidas em vez de tratar seus transtornos psiquiátricos.

Snead disse que os pais desses embriões não podem ser culpados por serem cegos à imoralidade dessa tecnologia, pois certas expectativas surgiram da cultura e de seu sistema legal.

O apelo da tecnologia reprodutiva, disse ele, não é diferente daquele das tecnologias que prometem aos consumidores que levarão em consideração suas preferências pessoais.

“Se você pensa em tudo na sua vida como um menu suspenso para pedir a coisa exatamente como você quer, então você fica irritado quando recebe algo que não pediu e o DoorDash traz a coisa errada ou não traz o molho com seu burrito ou algo assim”, disse Snead.

Viva no mundo que você quer

No entanto, nem tudo está perdido, segundo Rosen e Snead. Há esperança de que possamos recuperar o que foi perdido, mas isso significa rejeitar algumas das conveniências tecnológicas que passamos a esperar.

“Acho que precisamos ter mais consciência e consideração sobre o mundo em que queremos viver, não só aquele em que vivemos agora”, disse Rosen.

“No nível individual, você sempre escolhe o humano. Escolha o cara a cara. Abrace a ideia de que isso será inconveniente e irritante. E você tem que vestir roupas e calças e sair de casa, e desejar [às pessoas] ‘feliz aniversário’ na cara delas, não só porque o Facebook lembrou que era o aniversário delas”, disse.

Snead sugeriu que se leve a sério as palavras de santa Teresa de Calcutá.

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“Ela disse que a razão pela qual temos tantos problemas no mundo é porque esquecemos que pertencemos uns aos outros. A ideia de pertencer uns aos outros, até mesmo pessoas, requer alguma imaginação moral para entender como você pertence a pessoas que você não conhece, ou que você vê deitadas na rua, ou que você vê em uma cadeira de rodas, ou alguém que não se parece com você”, disse ele.

“Parece-me que, da nossa parte, [o caminho] para recuperar a visão genuína da amizade e do amor corporificado, da amizade e da hospitalidade é por meio da prática disso. Está em seus relacionamentos interpessoais. Fale com alguém, interaja com alguém, dê um abraço em alguém — com a permissão deles”, disse Snead.

“Quando debatemos e deliberamos sobre estruturas regulatórias ou estatutos ou o que quer que seja, devemos estar atentos à realidade do que é um ser humano e do que é o florescimento humano”, disse.

FONTE: ACI Digital

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Ivaldo Lima

Graduado em Sistema para Internet e Comunicação Social, Radialista com especialização em Marketing Digital!
Graduando em Teologia Católica.
Pós-Graduação em Doutrina Social da Igreja e Ordem Social!