3 de jun de 2024 às 11:28
A Igreja em Portugal é chamada a ser eucarística, samaritana e mariana, disse o cardeal português José Tolentino Mendonça, enviado especial do papa Francisco para o V Congresso Eucarístico Nacional. O cardeal celebrou ontem (3) a missa de encerramento do congresso, no santuário do Sameiro.
O V Congresso Eucarístico Nacional aconteceu entre sexta-feira (31) e ontem, em Braga, com o tema “Partilhar o Pão, alimentar a Esperança. ‘Reconheceram-n’O ao partir o Pão’”. O evento recordou os cem anos do primeiro Congresso Eucarístico Nacional, que aconteceu em 1924, na mesma cidade.
O evento foi encerrado ontem com a peregrinação arquidiocesana ao Sameiro. Os fiéis saíram às 7h da Sé de Braga e caminharam por cerca de três horas até o santuário do Sameiro.
Em sua homilia, o cardeal Tolentino disse que o V Congresso Eucarístico Nacional “não é apenas um enésimo encontro” para a Igreja em Portugal “falar de si mesma”. “É uma oportunidade para relançar o elã e a esperança; para readquirir uma juventude de alma capaz de renovar a sua proposta e o seu estilo; para viver um sobressalto de futuro aprofundando aquilo que pode significar hoje a Espiritualidade Eucarística”, disse.
O cardeal disse que, “motivada pelo caminho sinodal, reforçada pela experiência da Jornada Mundial da Juventude, mobilizada pelas grandes linhas do magistério do papa Francisco”, abre-se para a Igreja em Portugal “uma estação de renovação e de caminho”.
“Há uma frescura, há um odor a Evangelho vivo, há uma imaginação do bem, que os nossos contemporâneos esperam da Igreja Portuguesa. São talvez três, nesta hora, os grandes chamamentos fundamentais”, disse.
O primeiro chamado, segundo o cardeal Tolentino, é “ser uma Igreja eucarística”, isto é, “uma Igreja que não se coloca a si mesma como prioridade, mas no centro coloca Cristo e retoma Dele as Palavras e os gestos, o modo de olhar cada pessoa e a visão global sobre a vida”.
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“Uma Igreja eucarística é o contrário de uma Igreja clericalista: é uma Igreja configurada sinodalmente, que valoriza a participação de todos os batizados, que reconhece o papel do ministério ordenado, que cuida dos seus pastores e os acarinha, que investe nos ministérios laicais, que promove uma cultura eclesial de corresponsabilidade, que lê com profecia o lugar da mulher na Igreja. A Igreja Eucarística é uma Igreja de ‘portas abertas’, que se apresenta mais como experiência de serviço amoroso à vida, em vez da rigidez dos juízos que excluem”, acrescentou.
Em segundo lugar, disse, a Igreja em Portugal é chamada a ser “samaritana”, “que atualiza a linguagem da compaixão” e é uma Igreja “da proximidade”, “especialista em humanidade que, como insiste o papa Francisco, ‘não aponta o dedo, mas abre os braços’”.
“A Igreja samaritana é aquela que multiplica os tempos de escuta, capaz de ser artesã de encontros para lá da sua zona de conforto ou do seu perímetro habitual, capaz de diálogos e de abraços que testemunham a maternidade e a paternidade incondicionais de Deus. Uma Igreja que sabe existir não para condenar o mundo, mas para lhe dar o pão que exprime o amor sem limites”, disse.
Por fim, o cardeal Tolentino disse que a Igreja em Portugal é chamada a ser “mariana” e, por isso, destacou “alguns traços da espiritualidade mariana que somos desafiados a redescobrir”. “O primeiro deles é a gentileza”, disse, “a expressão de um coração desarmado e manso, capaz de substituir a agressividade pela doçura e o conflito pelo reconhecimento das razões do outro”.
Outro traço é a “contemplação”. “A Igreja tem necessidade de fazer prevalecer, em vez de uma máquina funcionalista, a sua dimensão mística. A Igreja só interceptará a sede de espiritualidade do nosso tempo se também ela se colocar a caminho, peregrina das perguntas em vez de rotineira gestora de respostas”, disse.
O terceiro traço é a “beleza”. “Como o pão é o alimento para o corpo, a beleza é o nutrimento da alma, sem o qual ela não persiste, nem ganha asas. Com Maria, a Igreja aprende a ser custódia e artífice da beleza”, disse, “a começar pela beleza da Eucaristia”.
Ao final da celebração, o cardeal Tolentino e os bispos metropolitas de Portugal – o arcebispo de Braga dom José Cordeiro, o arcebispo de Évora dom Francisco Senra Coelho e o patriarca de Lisboa dom Rui Valério – plantaram quatro árvores como “sinal de articulação entre a celebração da Eucaristia e a consciência ecológica integral”.
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