2 de mai de 2024 às 16:12
Na véspera das festividades da Páscoa judaica em Jerusalém, no final do mês passado, antecipando a chegada de inúmeros fiéis judeus, vários cartazes e panfletos apareceram nas ruas da Cidade Velha pedindo à população que evitasse comportamentos ofensivos e assédio contra cristãos e não-judeus.
“Devemos juntos manter ‘Derech Eretz‘ (‘o comportamento adequado precede a Torá’) em relação ao respeito da humanidade, aos não-judeus e aos de uma religião diferente, especialmente durante a Páscoa e durante todo o ano. Devemos prevenir e impedir que outros cuspirem na direção de outros que não são judeus”, diz um trecho do cartaz.
Segundo sites locais, a iniciativa foi promovida pelo morador do bairro ultraortodoxo Ramat Shlomo, Ahrale Friedman, localizado na parte mais nova de Jerusalém. Uma fonte com conhecimento da comunidade, mas que não pode falar por ela, disse à CNA, agência em inglês do grupo EWTN, a que pertence ACI Digital, que a campanha provavelmente é o esforço de uma organização judaica mais ampla com conexões no mundo ortodoxo.
Vários incidentes envolvendo judeus ultraortodoxos agredindo cristãos na Cidade Velha de Jerusalém foram relatados. Entre as áreas mais “sensíveis” para esse comportamento estão a Via Dolorosa, o bairro armênio e o monte Sião.
No último ano, um significativo movimento de opinião pública, tanto local quanto internacional, trouxe à tona esse tipo de incidente, incluindo a controversa prática de cuspir em cristãos ou em lugares sagrados cristãos como sinal de desprezo.
Os incidentes diminuíram nos últimos meses por causa da confronto entre as forças de defesa de Israel e o grupo terrorista Hamas, devido à ausência de peregrinos cristãos e à reduzida presença de judeus na Cidade Velha nos primeiros meses do conflito.
Há alguns meses, o ataque ao abade beneditino Nikodemus Schnabel, filmado ao vivo, causou comoção. E, nos últimos dias, tem circulado um vídeo filmado no bairro armênio em que blasfêmias contra Jesus em hebraico podem ser claramente ouvidas.
Em cartazes e panfletos, é possível encontrar citações de importantes autoridades rabínicas que condenam tais ações, como o rabino mais velho do Conselho da Torá, rabino Meir Zvi Bergman.
“Há uma coisa nova hoje que devemos protestar com todas as nossas forças: cuspir na rua, e somos contra. Isso é blasfêmia”, disse o rabino.
O rabino-chefe sefardita de Jerusalém, Shlomo Amer, também é citado como tendo dito: “Esta coisa é absolutamente proibida, e também é uma blasfêmia a Deus”.
Uma citação do rabino Shmuel Eliyahu, membro do Conselho Rabinato Chefe de Israel, também está presente: “Isso é tão oposto ao judaísmo. Não sei de onde vieram esses cuspes. Não é algo nosso.”
A conferencista, consultora, pesquisadora e guia israelense de história cristã, Yisca Harani, que está envolvida em atividades inter-religiosas, disse à CNA que tal iniciativa contra o comportamento “é absolutamente benéfica”.
A própria Harani está envolvida em denúncias de casos de violência contra cristãos. Em junho de 2023, ela lançou o Centro de Dados de Liberdade Religiosa, cujo objetivo é “documentar todos esses incidentes, levá-los ao conhecimento das instituições relevantes e exigir que usem os meios e medidas à sua disposição para repará-los”. Ela mesma viu algumas pessoas pendurando cartazes e pediu aos voluntários de sua associação que distribuíssem esses panfletos.
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Ela explicou que “todos os rabinos citados são muito famosos. Os nomes de alguns rabinos muito radicais e muito conservadores foram registrados. Significa que, se disserem para não cuspir, o público terá que ouvir com muita atenção”.
Harani está convencida de que denunciar às autoridades é um dos caminhos a seguir.
“Só se [os agressores] forem tratados de forma muito dura é que veremos uma mudança”, disse Harani. Por outro lado, ela acredita que a “forma educacional” é a única que pode garantir resultados a longo prazo.
“Os cartazes são um bom exemplo disso”, disse.
Os cartazes afirmam claramente que o comportamento agressivo em relação aos cristãos “não vai nos beneficiar e pode até prejudicar o apoio global à guerra”. Os cartazes também dizem que “pessoas más” usaram vídeos em que jovens eram vistos cuspindo em locais sagrados “como desculpa para atacar judeus no exterior e difamar o país e o povo [judeu]”.
“Mesmo sem as coisas acima mencionadas”, dizem os cartazes, “devemos ter cuidado com isso e preservar a honra de nossa Torá como filhos de Abraão, nosso pai, a paz esteja com ele, que também recebeu idólatras em sua tenda e nos ensinou o Kidush (conceito judaico de santificação do sábado) de Deus e os mais distantes, mesmo em dias de paz e tranquilidade em nossas ruas”.
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